Por Letícia Fucuchima
SÃO PAULO(Reuters) - A CPFL Energia (BVMF:CPFE3) fechou o ano passado com resultados financeiros positivos que refletem uma melhora do mercado de distribuição de energia, com sinais de aumento estrutural do consumo na baixa tensão, disse à Reuters o presidente da companhia, Gustavo Estrella.
A elétrica obteve um lucro líquido de 1,33 bilhão de reais no quarto trimestre de 2023, queda de 3,5% na comparação anual. Já o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) alcançou 3,11 bilhões de reais, 18,2% abaixo do registrado um ano antes.
O resultado trimestral teve impacto negativo de dois itens não recorrentes, um relacionado a ajustes contábeis após a consolidação da hidrelétrica Campos Novos e outro associado à contabilização de uma ação judicial sobre plano de previdência.
"Quando tiramos esses dois efeitos, saímos de uma queda de 18% para um aumento de 27,7% de Ebitda, para nós é o que reflete muito melhor tudo o que estamos vivendo aqui, especialmente na distribuição de energia, com o aumento de carga na baixa tensão", explicou Estrella.
No consolidado de 2023, o lucro líquido da CPFL cresceu 6,1%, para 5,54 bilhões de reais, enquanto o Ebitda avançou 4,6%, para 12,83 bilhões de reais.
A companhia propôs pagamento de dividendos de 3,173 bilhões de reais, ou 2,75 reais por ação, o que irá para votação em assembleia no final de abril.
Segundo o CEO da CPFL, um dos pontos positivos observados pela companhia desde o último trimestre de 2023 é a elevação do consumo de energia entre os consumidores da baixa tensão, como residências.
"Tem efeito de temperatura, a temperatura muito elevada fez com que a gente tivesse uma recuperação de mercado, mas a nossa análise é que não é somente isso, começamos a perceber uma mudança de hábito e um aumento mais estrutural do consumo de energia".
Por outro lado, Estrella observou que a hidrologia se mostrou muito ruim no início deste ano, justamente em meses críticos para o abastecimento dos reservatórios de hidrelétricas para enfrentar o período de estiagem, o que sugere um cenário de alta de preços ao longo do ano.
"Vamos ter zero risco de racionamento, mas temos um risco quase dado de aumento de preços... A expectativa é de que no segundo semestre o PLD comece a subir", afirmou, fazendo menção à referência de preços no mercado spot.
CRESCIMENTO E RENOVAÇÃO DAS CONCESSÕES
Em relação a oportunidades de crescimento, o executivo disse que a CPFL vai participar do leilão de transmissão de energia marcado para a semana que vem, que oferecerá 15 lotes com investimentos totais estimados em 18,2 bilhões em reais. A estratégia deve se manter a mesma de certames passados, de apostar em lotes próximos aos que a companhia já detém com o objetivo de obter sinergiais operacionais.
Já em geração de energia, Estrella afirmou que o segmento tem representado um investimento "de bastante risco" no momento, dado o cenário de preços da energia em geral ainda deprimidos no Brasil para os próximos anos, o que afeta as perspectivas de contratação de energia.
Ele indicou ainda pouco interesse da empresa em participar dos processos de aquisição da Emae ou dos ativos da AES Brasil (BVMF:AESB3), quando questionado sobre o tema.
"Olhamos a geração como investimento de bastante risco, especialmente a geração não contratada, em função disso, diria que o foco continua sendo olhar para distribuição e transmissão".
Sobre o processo de renovação das concessões de distribuição de energia, o CEO da CPFL avaliou que o atraso na definição das diretrizes é negativo para os investidores, uma vez que traz "instabilidade desnecessária" para um setor que depende de perspectiva de longo prazo.
A CPFL tem duas concessionárias com contratos vencendo em 2027, CPFL Paulista e RGE Sul, e uma em 2028, a CPFL Piratininga.
"Estamos falando de investimentos de 28 bilhões de reais, o meu acionista (a chinesa State Grid) topa fazer um investimento desse tamanho com a perspectiva de que vamos ficar por aqui por mais 30 anos. Se a gente começa a colocar em dúvida essa visão de longo prazo, claramente (isso) demanda uma mudança de estratégia de operação".
Ele reiterou ainda a aposta do grupo na distribuição, que receberá 23 bilhões de reais em aportes até 2028, e disse que o plano de arborização junto das prefeituras, para retirada de árvores que apresentam risco à rede elétrica, será uma das ações mais importantes para evitar interrupções de fornecimento de energia diante de novos eventos climáticos extremos.
Em distribuição, a CPFL Energia atende cidades dos Estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Paraná.
(Por Letícia Fucuchima)