Por Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) - O ex-presidente Jair Bolsonaro negou nesta quarta-feira que tenha adulterado seu cartão de vacinação e reiterou que não se vacinou contra a Covid-19, declarando-se surpreso com a operação de busca e apreensão da Polícia Federal em sua casa, em que teve seu telefone celular apreendido.
"Eu realmente fico surpreso com a busca e apreensão por este motivo... Nunca me foi pedido cartão de vacina em lugar nenhum. Não existe adulteração da minha parte. Eu não tomei a vacina e ponto final", disse Bolsonaro a jornalistas em frente à sua casa em Brasília, confirmando que seu telefone celular foi apreendido pelos agentes da PF.
O ex-presidente foi alvo de uma operação da PF que investiga a inserção de informações falsas no banco de dados oficial do Ministério da Saúde sobre vacinação, e três de seus auxiliares mais próximos foram presos entre os seis mandados de prisão cumpridos pela PF, de acordo com fontes com conhecimento da operação.
Em entrevista mais tarde à Jovem Pan, o ex-presidente disse que a operação da PF faz parte de uma campanha de "pressão 24 horas por dia" que ele vem sofrendo e que o objetivo da ação em sua casa foi "esculachar".
Bolsonaro teria que prestar depoimento ainda nesta quarta-feira à PF em Brasília, mas seus advogados pediram o adiamento da oitiva, de acordo com uma fonte. O ex-presidente deixou sua casa em direção à sede do seu partido, o PL.
Segundo uma fonte, Bolsonaro estava reunido com o presidente do partido, Valdemar Costa Neto; o líder da bancada da legenda na Câmara, Altineu Côrtes (RJ); e outros aliados. Após a busca e operação da PF, Bolsonaro saiu de casa, em um condomínio em uma região nobre de Brasília, acompanhado do advogado Marcelo Bessa.
Outros integrantes da equipe de defesa do ex-presidente, como Paulo Cunha Bueno, Daniel Tessler e Fabio Wajngarten, viajaram de São Paulo para Brasília e tentavam ter acesso aos autos da investigação contra o ex-presidente.
Ex-chefe da Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom) do governo Bolsonaro, Wajngarten afirmou que a defesa do ex-presidente não teve acesso a nenhuma informação referente aos acontecimentos desta manhã.
Durante a pandemia de Covid-19, doença que matou mais de 700 mil pessoas no Brasil, Bolsonaro por diversas vezes divulgou informações falsas sobre vacinas e questionou, sem apresentar provas, a eficácia dos imunizantes. Ele repetiu diversas vezes que não se vacinaria contra a doença.
Segundo a PF, a operação "Venire" busca esclarecer a atuação de associação criminosa constituída para a prática dos crimes de inserção de dados falsos de vacinação contra a Covid-19 nos sistemas do Ministério da Saúde.
(Reportagem adicional de Camila Moreira, em São Paulo)