Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - O Ministério da Saúde voltou atrás na noite de quarta-feira e liberou a vacinação contra Covid-19 para adolescentes de 12 a 17 anos com vacinas da Pfizer (NYSE:PFE) (SA:PFIZ34), uma semana após anunciar a suspensão da imunização alegando que Estados iniciaram o processo antes do previsto e apontando efeitos adversos, como a morte de uma adolescente que soube-se depois não ser relacionada à vacina.
Em entrevista na noite de quarta, o secretário-executivo da pasta, Rodrigo Cruz, afirmou que o ministério avaliou todo o cenário, depois do resultado das investigações que mostraram não haver relação entre a morte e a vacinação, e a avaliação foi de que os benefícios ultrapassam eventuais riscos.
A medida não altera o cenário da vacinação na prática, já que a maior parte dos Estados manteve a vacinação dos adolescentes apesar da suspensão anunciada pelo ministério. Especialmente depois que o ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu, em resposta a ações de diversos partidos, que caberia aos Estados decidir pela vacinação ou não dos adolescentes.
"A mensagem-chave é essa. O ministério suspendeu de forma cautelar a vacinação de adolescentes sem comorbidades, passou uma semana investigando as causas que fizeram com que se adotasse essa estratégia de suspensão, e entendeu-se que podemos sim retomar a imunização dos adolescentes", disse Cruz.
Também na quarta, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) confirmou a informação já anunciada pelo Estado de São Paulo de que a morte da adolescente não foi relacionada à vacina. O óbito foi causado, segundo as autoridades, por uma doença autoimune grave que a adolescente tinha previamente.
Na entrevista da noite de quarta, o ministério garantiu também que não vai faltar vacina para imunizar os adolescentes.
Quando anunciou a suspensão, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou que os Estados iniciaram a vacinação dos adolescentes antes do previsto pelo Plano Nacional de Imunização (PNI) e, por conta disso, segundo ele, havia falta de doses em alguns Estados, o que também justificaria a suspensão.
A suspensão foi anunciada no dia 16 de setembro, um dia depois da data prevista no PNI para que se começasse a vacinação de adolescentes sem comorbidades, mas Queiroga reclamou que vários Estados tinham já iniciado no final de agosto.
Em uma entrevista confusa, em que teve dificuldade de justificar sua decisão, o ministro misturou a alegação sobre a morte da adolescente em São Paulo --apesar de reconhecer que não havia ainda evidências que confirmassem a relação com a vacina-- , o risco de falta de doses e uma suposta falta de evidências sobre benefícios da vacina entre adolescentes.
Queiroga chegou a dizer explicitamente que mães e pais não deveriam levar seus filhos para vacinar.
A decisão do ministro --tomada sem o conhecimento de técnicos da pasta e da Anvisa-- veio após um pedido do presidente Jair Bolsonaro. No dia anterior, Bolsonaro ficou sabendo da morte da adolescente em São Paulo e ligou para Queiroga.
Segundo Cruz, a decisão de liberar novamente a vacinação foi comunicada previamente a Bolsonaro.
"O ministro sempre conversa com o presidente sobre todas as decisões e nada é feito à revelia do ministro, do presidente. Tudo é sempre conversado. Então, sim, o presidente tem conhecimento do que está sendo apresentado aqui", disse o secretário.
Queiroga, que foi contaminado pela Covid-19 enquanto acompanhava Bolsonaro em viagem aos Estados Unidos, ficou em Nova York para cumprir quarentena. Já Bolsonaro voltou ao país e despacha no Palácio da Alvorada pelo menos até domingo, cumprindo no Brasil a quarentena recomendada a pessoas que tiveram contato com pessoas com Covid-19.