Por Julia Symmes Cobb
BOGOTÁ (Reuters) - Trabalhando em ambulâncias há 14 anos, o doutor Carlos Barragan se acostumou a atender até três chamados em um turno de 12 horas, muitas vezes acidentes de trânsito.
O coronavírus mudou isso.
Agora, Barragan e os outros dois membros de sua equipe estão lidando com até sete chamados por turno em Bogotá. A Colômbia está sujeita a uma quarentena que já dura quase cinco semanas e prevista para durar até 27 de abril.
"Aumentou muito para nós", disse Barragan enquanto a equipe organizava equipamentos de proteção no início do dia. O incremento inclui não somente chamados de pacientes com Covid-19, mas também de pessoas sofrendo com problemas de saúde mental exacerbados pelo isolamento.
Quando um chamado de coronavírus chega, o medo vem à tona.
"Existe ansiedade, existe medo, mas sabemos que precisamos fazê-lo porque é nosso trabalho", disse Barragan, que é casado e tem dois filhos.
Há mais de 3.200 casos confirmados de coronavírus na Colômbia, e mais de 140 pessoas já morreram.
Os chamados para o número do serviço de emergência da capital aumentaram exponencialmente, disse Andrés Álvarez, diretor de emergências do Departamento de Saúde de Bogotá.
"Antes da Covid, normalmente recebíamos uma média de 1.400 chamados (por dia)", disse ele em meio a fileiras de mesas de atendentes. "A partir do primeiro caso de 6 de março, os chamados aumentaram 625%. Tivemos dias de 7.000 a 8.500 chamados".
Cerca de 80% são relacionados ao coronavírus, detalhou Álvarez, inclusive pessoas com sintomas respiratórios pedindo exames e querendo saber onde procurar atendimento.
Álvarez acrescentou dezenas de atendentes e médicos de atendimento domiciliar à equipe para dar conta do aumento, inicialmente por três meses.
A atendente Juliet Bernal realiza o trabalho há 13 anos, mas atualmente atende 10 vezes mais chamados.
"São ao menos 500 chamados, às vezes um pouco mais", contou ela antes de atender mais um. "É um atrás do outro!"
Profissionais de saúde de toda a América Latina relatam hostilidade de membros do público que temem que eles estejam disseminando a Covid-19, uma experiência que se repete em Bogotá.
"Você vai ao supermercado ou espera na fila do banco e as pessoas veem seu uniforme e discriminam porque acham que você vai infectá-las", disse Barragan.
"Espero que a quarentena funcione."