O mês de outubro viu o dólar despontar como um dos melhores investimentos juntamente com o Bitcoin (BTC).
Os motivos para a alta do dólar são os mais diversos, mas o aumento do risco fiscal brasileiro se destaca.
Afinal, as manobras do governo para driblar o teto de gastos não foram bem vistas pelo mercado.
O aumento da inflação, tanto no Brasil quanto em nível global, também contribuiu para a disparada na cotação.
Todavia, um novo “culpado” parece ter se apresentado ao mercado: o Bitcoin (BTC).
Este argumento foi levantado pelo mestre em Economia Fernando Ulrich, que fez um questionamento através do Twitter.
É sério que tem gente culpando o fluxo para compra de Bitcoin pela escalada do câmbio por aqui? Agradeceria links sobre o assunto”, questionou.
Bitcoin como investimento no exterior
Sob este ponto de vista, o BTC representaria um investimento em comércio exterior para fins de contabilidade. Dessa forma, quem adquire a criptomoeda estaria investindo em algo atrelado ao dólar. E dado que o fluxo para compra de BTC aumenta, isso afetaria a balança comercial brasileira.
De acordo com o site Cointrader Monitor, os brasileiros negociaram 28.236,66 BTC em setembro, ou cerca de R$ 6,9 bilhões. O número foi elevado, mas representou uma queda de 10,8% comparado aos 31.647,06 BTC negociados em agosto.
Os números de outubros ainda não foram divulgados, mas é possível que o volume tenha voltado a crescer. Segundo Ricardo Dantas, CO-CEO da Foxbit, o fluxo de investimentos em BTC reflete uma mudança de visão dos investidores a respeito do papel da criptomoeda.
“As pessoas estão entendendo que comprar BTC é, além de ser uma reserva de valor contra a inflação, também uma forma de se proteger a volatilidade do real”, disse.
Dólar alto é problema do Brasil, não do Bitcoin
Portanto, dado que a demanda está em tendência de alta, faz algum sentido relacionar o aumento nas negociações de BTC à valorização da moeda? Para Marcello Paz, CEO e fundador da O2 Research, não existe nenhuma correlação entre os dois fatores.
A alta cotação do dólar, em sua visão, não tem nada a ver com o BTC, mas sim com os problemas do país. Por outro lado, o dólar também ganhou valor frente as moedas globais, como mostra a valorização de 4,27% do índice global do dólar (DXY) em 2021.
Ao mesmo tempo, Paz lembra que os brasileiros negociam a criptomoeda em reais, ainda que utilizem exchanges estrangeiras. Para que as compras impactassem no preço do dólar, a maior parte do volume deveria ser negociado em dólar.
“Não tem a menor fundamentação imaginar que a compra de Bitcoins poderia afetar o câmbio no Brasil. Algo assim só poderia acontecer se fosse necessário remeter dólares para fora do pais para comprar a criptomoeda, o que não é o caso, pois a maior parte das compras é feita utilizando a moeda brasileira”, explica.
Em suma, o volume de BTC, em pouco menos de R$ 7 bilhões por mês, ainda não tem força para impactar um mercado como o de câmbio.
A título de comparação, o Banco Central (Bacen) chegou a realizar leilões de contratos de dólar na casa de US$ 2 bilhões este mês. Ou seja, apenas um leilão movimento, em reais, o equivalente a todo o volume de BTC negociado em um mês.