Por Aluisio Alves
SÃO PAULO (Reuters) - Um fundo de investimentos se prepara para captar cerca de 150 milhões de dólares em março com o lançamento de uma criptomoeda lastreada no mercado imobiliário global, operação que deve marcar a estreia de brasileiros no efervescente mercado das ofertas iniciais de moedas (ICO, na sigla em inglês).
Segundo idealizadores do projeto, seu fundo Dynasty, criado em 2016, está perto de receber aval de reguladores na Suíça para se converter de sociedade limitada em sociedade anônima, antes de fazer a captação inicial, prevista para 15 de março. Metade dos recursos deve vir de investidores qualificados, o restante será oferecido ao público.
Diferente da grande maioria das cerca de 1.400 moedas virtuais hoje no mercado, o dinheiro que será lançado pelo fundo, o D¥N, terá lastro, no caso imóveis, títulos de carteiras imobiliárias ou mesmo a ações de construtoras e incorporadoras.
"É uma espécie de token, em que cada moeda representa um pedaço de imóvel", disse à Reuters Eduardo Carvalho, sócio fundador da Dynasty e anteriormente diretor geral da Imóvel A, da empresa imobiliária Lopes.
Esta será a primeira de uma série de quatro captações que a empresa pretende fazer nos próximos anos, cujos recursos serão usados para comprar uma carteira prospectada avaliada em cerca de 500 milhões de dólares em ativos imobiliários.
Fundada em 2016, o projeto Dynasty teve investimento inicial equivalente a cerca de 2 milhões de dólares. A empresa tem uma equipe de cerca de 40 pessoas espalhadas por várias regiões do mundo que ajudaram a formar uma carteira inicial, com imóveis sobretudo comerciais nos Estados Unidos, Europa, China, Oriente Médio e América Latina.
O desenho do negócio prevê que a moeda siga a evolução dos ativos da carteira, com valorização média estimada em 8 por cento ao ano dos imóveis mais o valor de aluguéis recebidos (cerca de 8 por cento anual do valor do imóvel). As receitas serão usadas para recomprar e destruir moedas, reduzindo o volume e elevando o valor de cada D¥N em relação ao lastro.
Por isso não há espaço para mineração, atividade frequente no mercado das moedas virtuais em que pessoas podem receber criptomoedas como recompensa caso os computadores que usam para processar dados do sistema consigam encontrar elementos que o tornem mais seguro.
Segundo Fabio Asdurian, também sócio fundador do negócio e criador da rede lojas de tênis Tennis One, a criptomoeda está sendo oferecida a fundos soberanos, gestores de fortunas de famílias e outros grandes investidores globais.
A moeda foi registrada na Finma, órgão regulador do mercado de capitais da Suíça. A gestão da carteira líquida da Dynasty será feita pelo Credit Suisse.
Ofertas iniciais de moedas não são regulamentadas no Brasil. Na verdade, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) proibiu na semana passada que fundos de investimentos do país tenham moedas virtuais em seus portfólios. Mas Carvalho disse que o D¥N poderá ser comprado por brasileiros em bolsas estrangeiras.
O movimento vem na esteira de uma série de revezes sofridos recentemente pelas moedas virtuais, com reguladores de China, Coreia do Sul, Índia, Alemanha, limitando ou simplesmente banindo investimentos em ativos como bitcoin, a mais famosa das criptmoedas, um mercado de 700 bilhões de dólares.
Segundo os sócios da Dynasty, seu projeto tem na estrutura elementos pensados para evitar que sua moeda seja tão volátil como as demais. Além disso, os fundadores afirmam que o ativo tem mecanismos que permitem identificar os detentores do D¥N, o que alivia a desconfiança de reguladores de que o investimento seja visto como um canal para lavagem de dinheiro.
Egressos dos setores imobiliário e de varejo no Brasil, Carvalho e Asdurian afirmam ter observado vários bons ativos imobiliários no país, mas com baixa liquidez no mercado. Com o advento das moedas virtuais, que acompanham desde 2013, ambos viram na novidade um canal para resolver essa deficiência.
"Com o D¥N, o detentor pode ao mesmo tempo ter um meio de pagamento e um ativo de investimento com lastro", diz Carvalho.