O desabastecimento de energia tem afetado severamente a Europa e a China. O gigante asiático sofre com os limites impostos à produção de carvão, severamente limitada pelo governo chinês.
Por outro lado, o problema no Velho Continente é o gás natural, cujo preço disparou nos últimos meses. A prioridade dada às fontes de energia solar e eólica contribuiu para esse movimento. Como resultado, o preço do gás estabeleceu uma alta similar à que se acostumou a ver no preço do Bitcoin (BTC).
Aliás, falando em BTC, o fim da mineração na China não representou em uma economia de eletricidade. De fato, o país agora convive com apagões frequentes que deixam milhões de cidadãos sem energia.
Nesse cenário, será que a escassez global de eletricidade pode afetar a mineração de BTC? Os especialistas brasileiros Ray Nasser e Rudá Pellini, sócios da mineradora Arthur Mining, explicam a situação e como ela pode afetar o BTC.
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Mineração nos EUA com DNA brasileiro
Criada em 2019, a Arthur Mining é uma mineradora que aposta no uso de energia limpa para minerar BTC.
A empresa utiliza utiliza gás desperdiçado e subvalorizado da indústria de óleo e gás como fonte de energia para suas atividades. Ou seja, a Arthur Mining realiza toda a mineração através de fontes limpas de energia. Por outro lado, utiliza o mesmo gás que hoje está em escassez na Europa.
Para Ray Nasser, CEO da Arthur Mining, a mineração do BTC é livre de qualquer estrutura geradora de energia. Portanto, a escassez na Europa e na China não terá qualquer impacto nas atividades.
“A mineração de Bitcoin tem a vantagem de buscar energia nos mais remotos lugares do mundo. Não precisa competir com a capacidade conectada na rede. Onde houver excedente de energia disponível, conseguimos colocar nossa infraestrutura para minerar”, explicou o CEO.
Já para Pellini, cofundador da Wise&Trust e presidente da Arthur Mining, o impacto da escassez de gás tende a ser positivo. De acordo com Pellini, as fontes renováveis receberam grandes investimentos em geração, mas os investimentos em distribuição não acompanharam o mesmo ritmo.
Ou seja, a estrutura para distribuir a energia ainda é limitada. Como resultado, as fontes renováveis geram um grande excedente que costuma ser desperdiçado. E a Arthur Mining entra justamente para corrigir este problema.
“O que estamos fazendo com a Arthur Digital Assets é justamente viabilizar o consumo off-grid de energia ociosa, diretamente na planta de geração. Assim, permitimos que essas instalações iniciem antes suas operações e viabilizando que novos investimentos sejam feitos em geração renovável, dado que será possível consumir a energia sem depender do lead time da disponibilidade da rede”, disse Pellini.
Conceito de on-grid e off-grid
Os termos on-grid e off-grid, citados por Nasser e Pellini, definem as estruturas utilizadas por sistemas de energia renovável.
Enquanto o sistema on-grid depende da rede de distribuição, que fornece créditos pela energia excedente, o off-grid utiliza-se de baterias para manter o uso de equipamentos elétricos mesmo em períodos de menor produção.
Ou seja, o sistema on-grid é conectado à rede de distribuição tradicional. A energia gerada é distribuída para a rede e, em troca, o usuário recebe créditos (geralmente em kilowatts [KW]) que podem ser utilizados para consumo de energia.
Já o sistema off-grid não depende da rede, o que na prática torna um local autossuficiente na geração e consumo de energia. Porém, ele demanda o uso de baterias para armazenar o excedente produzido.
Esse excedente, por sua vez, é utilizado para consumo em momentos de menor produção, como na falta de ventos ou no inverno – quando há menor incidência de luz solar.
O consumo on-grid ainda tem custos do uso da rede, como taxas e impostos. Então as mineradoras que utilizam esse sistema tendem a ser menos competitivas.
“Acredito que as mineradoras que consomem energia on-grid e não conseguem se tornar independentes do ponto de vista de geração terão um grande problema pela frente, principalmente considerando a recente alta no preço global de energia do grid”, disse Pellini.
Situação energética preocupa
De acordo com a Intercontinental Exchange, o preço do gás natural está seis vezes mais caro do que em 2020. Como 90% do gás natural utilizado pela União Europeia é importado, o bloco de países agora corre o risco de enfrentar uma escassez de energia.
Em contrapartida, a China já experimenta blecautes e cortes no fornecimento em várias cidades. O cenário é tão grave que o governo resolveu aumentar a produção de carvão, visando abastecer as usinas térmicas.