O mercado de tokens não fungíveis, ou NFTs, disparou de forma súbita em termos de popularidade. Tendo em vista os altos preços vistos e as diversas possibilidades, artistas do mercado tradicional da arte estão atentos a esse movimento digital.
É o caso de Gabriel Wickbold. Fotógrafo aclamado com quase 15 anos de experiência na área e premiado como “Homem do Ano” pela revista GQ em 2020, Wickbold e seu radar atento às mudanças logo captaram a febre dos NFTs.
Em conversa com o CriptoFácil, ele contextualiza os NFTs do ponto de vista artístico e fala sobre sua coleção digital.
Disrupção é o ponto em comum
Gabriel Wickbold começa observando que o mercado da arte já é conhecido por quebrar paradigmas. Este é um ponto em comum com o mercado de ativos digitais, conhecido pela sua natureza disruptiva.
Outro ponto em comum apontado pelo artista é o caráter especulativo. Ele ressalta que o mercado da arte tradicional é especulativo por natureza e, nesse sentido, os NFTs são semelhantes.
Em razão de tais similaridades e somados os altos valores pagos em artes digitais, Wickbold salienta que o mercado de NFTs é “difícil de ignorar”.
Não apenas pelos pontos em comum, mas tradicional e digital se conectam também pelas suas diferenças:
“O mercado da arte ainda é elitizado, tem o nariz empinado. Esse movimento dos NFTs no mercado de criptomoedas deixa isso mais leve, ele brinca com o mercado da arte e o deixa mais inclusivo,” argumenta o artista.
Além disso, Wickbold completa frisando a segurança das obras, registradas em blockchain:
“É um mercado seguro, e seguro para ambos os lados. O comprador tem a posse da arte autenticada em blockchain, bem como os artistas também registram suas obras em blockchain para comercializá-las.”
Tendo em vista a série de benefícios vistos por Wickbold no mercado de NFTs, é natural que resolvesse exibir sua arte digitalmente.
Desta forma, ele decidiu lançar a obra “Sexual Colors” na plataforma OpenSea. O leilão, já aberto, durará até o dia 17 de março — próxima quarta-feira.
Essa é a primeira obra de uma coleção. Contudo, o aclamado artista ainda não revelou quais são as próximas obras ou suas datas de lançamento.
Preços altos e autonomia
Sobre os preços dos NFTs, Wickbold não está surpreso. Ele comenta que, no mundo da arte, acontece o mesmo. Como exemplo, o artista menciona o NFT vendido por R$ 386 milhões recentemente:
“Na mundo da arte acontece a mesma coisa, a aquisição acaba ditando o preço da obra. Agora ela é uma obra de R$ 386 milhões porque alguém pagou R$ 386 milhões. Ela passa a ser vista de outra forma, passa a dar status ao portador.”
Ele completa dizendo que a tendência é de mais vendas como essa. Conforme o mercado amadurece, mais artistas do ramo tradicional irão interagir com NFTs.
Tal movimento “abrirá o leque” de obras de arte, possibilitando mais aquisições de preço alto. E, para Wickbold, o mercado de NFTs tem tudo para progredir nessa direção:
“O mercado de NFTs tira a necessidade de estocar uma obra fisicamente, de mover uma obra de um canto a outro. Você não tem custos e cuidados específicos para guardar uma obra física, como luz, temperatura e umidade,” conta.
Todavia, não só a questão física despertará um interesse maior. O artista reconhece também o rompimento de barreiras:
“O artista precisa ser autônomo, livre, e o mercado de NFTs oferece essa possibilidade. Oferece essa autonomia. Há mais liberdade, há uma quebra de barreiras geográficas e até mesmo de barreiras hierárquicas. Em todo ramo, você tem um grupo que está no topo, ganhando dinheiro, e não tem interesse de abrir para novos membros. O que acho maravilhoso nos NFTs é isso: vai se destacar quem tem algo para falar, quem tem algo para publicar, independente de quem seja.”
Wickbold compara ainda a relação entre mercado da arte e NFTs com CDs e MP3. De qualquer forma, ele acredita que as galerias de arte não deixarão de existir por conta dos NFTs — haverão interessados em ambos os ramos.
Mercado acaba com fim do hype?
Os NFTs já tiveram certa relevância em 2017, na forma dos CryptoKitties. Entretanto, o hype visto à época nem de perto se compara ao momento atual.
Nesse sentido, o CriptoFácil perguntou a Gabriel Wickbold se ele acredita que o mercado de NFTs terá fim quando a febre baixar. Na visão do artista, isso é pouco provável.
“O futuro está nesse universo [NFTs]. Não se pode virar as costas para algo que está apontando na direção de quebrar barreiras continentais. Que auxilia na liquidez de artistas, torna a arte mais comercializável, mais aberta ao público,” opina o fotógrafo.
Não só isso, mas o “Homem do Ano” da revista GQ acredita que há uma considerável possibilidade de o mercado ficar mais sério.
Com o fim do hype, os novos artistas imersos nesse ambiente poderão pensar com calma em todos os benefícios dos NFTs. É quando o mercado ficará “mais sério” na relação entre arte e ambiente digital, acredita Wickbold.
Fraudes ainda são um problema
Embora a posse e o registro de transações de um NFT sejam indiscutíveis por conta da blockchain, a origem da arte ainda é um problema.
O lado negativo dos NFTs são os artistas que estão tendo obras plagiadas e comercializadas por outras pessoas. De qualquer forma, Wickbold acredita que isso vai diminuir com o tempo:
“Acredito que são dois movimentos. O primeiro é o comprador do NFT se educar, no sentido de não comprar algo que não é original. Todo o propósito do NFT é comprar e ter a criação original, então, comprando uma cópia ele se prejudica. O segundo é o universo de NFTs puxar o artista real, trazer quem de fato criou aquela obra de arte,” diz Gabriel sobre as fraudes.
Do seu ponto de vista como fotógrafo, Wickbold explica que a era atual é de “banalização de reprodução da imagem”. É comum pegar uma imagem em algum lugar, colocar em um quadro, tudo facilitado pela internet.
O que se compra hoje em dia, segundo ele, é o direito à reprodução. Nesse ponto, é importante que as casas de leilão de NFT desenvolvam um mecanismo para reconhecer a autoria.
Assim, tanto consumidores de arte quanto autores estarão seguros neste novo universo.