Os jogos hiper casuais estão em franca ascensão. O gênero, que não exige dedicação e conhecimento prévio do usuário, representou mais de 50% dos downloads de jogos em 2021, com mais de 2.700 lançamentos, e continua atraindo jogadores e desenvolvedores.
A plataforma Gameta Gameta é uma plataforma de jogos hiper casuais. Com a missão de atrair novos usuários para a Web3, aposta na simplificação da experiência: baixos custos, criação automática de endereços na blockchain e a opção de custódia simplificada (com chaves privadas administradas pela plataforma).
Atualmente, oferece 12 títulos com características Play-to-Earn, como as recompensas em tokens e a necessidade de um NFT para jogar. O NFT funciona como ingresso para a plataforma, dando acesso a diferentes jogos.
A Gameta foi construída na BNB Chain, uma blockchain semelhante à do Ethereum. A escolha é interessante porque permite baixos custos e aplicações bastante rápidas, além de integrações com um ecossistema já bastante denso de funcionalidades.
Segundo o DApp Radar, é o app de jogos mais popular da BNB Chain desde o fim de agosto, tendo alcançado 1,6 milhão de endereços ativos e 2,0 milhões de transações.
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Modelo econômico
Para oferecer experiência de onboarding simplificada, a plataforma oferece para todos que se cadastram um NFT gratuito do tipo White Hippo, com validade de um dia.
O jogador pode se integrar à economia do jogo comprando o NFT Common Hippo, por $2,99, e pagando 10.000 GDO (US$ 1) pelo mint. Esse NFT poderá ser usado em diferentes jogos, o que aumenta o valor de uso do ativo e a probabilidade de fidelização do jogador à plataforma.
Ao longo dos jogos, o usuário recebe rendas em token GDO, que pode ser usado para aumentar stamina (o que permite mais partidas por dia) ou prolongar a vida do personagem (diferentemente do usual em jogos com NFTs, os Hippos da Gameta podem morrer).
Para permitir a monetização do tempo de jogo, os tokens também podem ser vendidos à taxa fixa de 10.000 GDO por dólar, garantida pela empresa desenvolvedora.
Aparentemente, a ideia é possibilitar rendas relevantes para o usuário: segundo postagens do projeto, o jogador poderá gerar receitas de até 300.000 GDO (US$ 30) ao passar os 10 primeiros níveis com o NFT gratuito.
Mas não será trivial manter a sustentabilidade: com as receitas do projeto limitadas ao custo de entrada (US$ 3,99 por NFT), o ecossistema tem o aspecto “piramidal” tão comentado após o último ciclo de jogos P2E.
Planejamento
O lançamento do token de governança HIP está planejado para quando a plataforma atingir a meta de 1 milhão de usuários.
O HIP parece se enquadrar em um modelo já consagrado no segmento, de um utility token com oferta limitada e distribuído via Play-to-Earn apenas para jogadores de alta performance. Deverá ter oferta limitada a 1 bilhão de unidades, mas não há informações disponíveis sobre vesting ou distribuição.
O o token HIP também poderá ser usado para upgrades de personagem, possibilitando aumentar ganhos no jogo. Deverá trazer, assim, uma economia mais robusta, mas ainda dependente dos próprios gastos dos usuários.
Por último, destacamos a proposta de criação de um marketplace, com coleta de taxas sobre transações. O modelo tem o risco de comprometer o modelo atual de ganhos, já que tornará possível contornar o custo de US$ 3,99 de entrada, mas abre espaço para mais possibilidades de geração de receitas.
Análise, oportunidades e riscos Começamos considerando que o projeto tem certos pontos de atenção: o site da Gameta, por exemplo, parece ter sido feito sem muitos cuidados. Contém diversos erros de digitação e nenhuma informação sobre time, investidores e parceiros.
O objetivo de atrair jogadores para a Web3 parece bem endereçado pela escolha do modelo hiper casual: a proposta já é uma tendência do mercado de jogos, com bilhões de downloads, um público sedento por novidades e um cenário competitivo razoavelmente frouxo.
Por outro lado, o curto intervalo entre a descoberta e a exaustão dos jogos desse tipo impõe a necessidade de novos títulos em um ritmo acelerado. Para acompanhar a demanda do mercado, será preciso manter uma equipe atualizada sobre as tendências e pronta para desenvolvimentos rápidos, a exemplo de líderes do mercado como Zynga e Crazy Labs.
A escolha da BNB Chain contribui para as chances de tração: a plataforma oferece onboarding simplificado para os clientes da exchange Binance, conta com uma comunidade de jogadores relevante e baixíssimos custos de transação.
Mas a BNB não é uma blockchain de grande prestígio no mundo cripto. A plataforma, criada nos moldes do Ethereum, ficou conhecida pela tecnologia pouco original, pela centralização do consenso em torno da Binance e pelo lançamento de projetos “copiados” do ecossistema Eth.
No quesito tecnologia, a carteira própria off-chain envolve trade-offs importantes: a prática é bastante comum e simplifica a experiência do usuário, mas reduz a autonomia do jogador e expõe o ecossistema a maiores riscos de hacks.
A integração com identidades descentralizadas (DIDs), pretendida para o início de 2023, poderá trazer maiores impactos para o onboard na Web3 e maiores efeitos de rede dentro do ecossistema BNB – mas aumenta os riscos associados à privacidade do usuário.
Já no que se refere à sustentabilidade do modelo econômico, a dependência de custos de entrada preocupa. Para que a plataforma se mantenha ao longo das altas e baixas do mercado, será preciso elaborar outras fontes de receita associadas à atividade dos usuários – não só à chegada deles.
O desafio do jogador será ter uma boa performance para recuperar seu investimento, enquanto o da companhia é garantir que o jogador médio não atinja essa meta – os custos de manutenção em tokens poderão auxiliar nesse sentido.
Com inúmeras opções no nicho, muitas gratuitas, o jogo pode vingar se tiver qualidade o bastante para não frustrar o jogador médio, que em média, não deverá sair no lucro. Isso será mais fácil se a companhia conseguir injeções de capital para crescer ou se adotar o modelo “clássico” de receita com anúncios.