Passa de US$ 110 bilhões o valor de mercado atual das stablecoins, moedas digitais estáveis lastreadas em ativos físicos. Esse volume expressivo e crescente reflete o tamanho da demanda por essa classe de ativos na indústria de criptomoedas. Contudo, a centralização e falta de transparência por parte de algumas emissoras colocam-se como grandes desafios para este mercado.
Por um lado, há quem acredite que as stablecoins centralizadas, como Tether e USDC estão com os dias contados e que as DAOs (Organização Autônoma Descentralizada) se tornarão uma tendência.
Por outro lado, há quem pondere que essas stablecoins são um “mal necessário”. Afinal, são essas criptomoedas estáveis — normalmente lastreadas em dólar — que viabilizam a negociação de criptoativos com menor volatilidade.
“Do ponto de vista do trader, as operações com stablecoins são, em geral, mais assertivas. Isso porque temos apenas uma volatilidade na operação quando operamos criptomoedas com o par stablecoin. Para quem faz hedge, também é muito útil trabalhar com stablecoins, pois o investidor consegue ‘travar’ o preço e se manter longe da volatilidade”, destacou o trader Felipe Escudero, do canal BitNada, ao CriptoFácil.
Lastro das stablecoins
O crescimento do mercado de stablecoins tem chamado a atenção de reguladores de todo o mundo. Autoridades econômicas, principalmente dos Estados Unidos, acreditam que essa classe de ativos representa um risco à estabilidade financeira.
No mês passado, o Federal Reserve, dos Estados Unidos, afirmou que as moedas digitais estáveis precisam de uma estrutura regulatória mais forte.
As principais preocupações giram em torno do lastro dessas stablecoins. Ou seja, das reservas que garantem a paridade da moeda digital estável com um ativo físico.
Recentemente, conforme noticiado pelo CriptoFácil, tanto a USDT quanto a USDC divulgaram seus relatórios de reservas.
Em ambos os casos, ficou comprovado que o lastro das stablecoins não está 100% em dólares, o que gerou críticas de especialistas e pode gerar preocupações por parte dos reguladores.
Regulação do mercado de stablecoins
Ao CriptoFácil, Thiago Cesar, CEO da Transfero Swiss, emissora da stablecoin lastreada em real BRZ, afirmou que a regulação do setor é inevitável.
Isso porque muitas pessoas preferem usar stablecoins em vez dos sistemas bancários tradicionais. Esse interesse está sendo observado de perto pelos reguladores, mas as emissoras também estão atentas a uma provável regulação:
“A gente vê que as stablecoins já estão se preparando para esse futuro mais regulado. Então, as empresas por trás das stablecoins já buscam licenças para que estejam caçados caso, no futuro, uma regulação mais pesada venha”, afirmou.
Já com relação ao lastro das moedas digitais estáveis, Cesar disse que as emissoras não precisam, necessariamente, manter todas as reservas em cash.
“Existe essa percepção errônea do mercado que as stablecoins nasceram para ser representações digitais de uma moeda nacional onde o colateral fique necessariamente em cash em uma conta bancária. Não é sempre o caso”, ponderou.
De qualquer forma, o fato é que as stablecoins tornaram-se quase indispensáveis nas negociações de criptoativos. E no Brasil, isso não é diferente.
Cesar observou que, recentemente, a BRZ atingiu R$ 1 bilhão em colateral, corroborando esse interesse por parte dos investidores.
O executivo destacou que as stablecoins facilitam a troca de saldos entre exchanges e operações em plataformas internacionais. Além disso, com as moedas digitais estáveis, os usuários podem se proteger de variações cambiais.
Centralização das stablecoins
No que diz respeito à centralização, o especialista em criptomoedas e cofundador do CriptoFácil, Paulo Aragão, observou que o conceito de centralização das stablecoins vai na contramão da ideia central das criptomoedas.
Apesar disso, os benefícios que a estabilidade dessa classe de ativos traz acaba levando os investidores a usarem as stablecoins:
“Quando o Bitcoin foi concebido, o foco era justamente fugir da centralização. No entanto, é natural que haja uma necessidade por parte dos traders e investidores de fugirem da volatilidade das criptomoedas, mas permanecerem nos criptoativos. Ao ter essa necessidade, acabamos caindo na centralização das stablecoins.”
Quem concorda com Aragão é Escudero, mas ele reconhece que não há, no mercado, bons modelos de stablecoins centralizadas.
Para o trader, atualmente, os projetos mais transparentes são o GUSD e o BUSD. Mesmo assim, as informações do lastro dessas moedas estáveis não foram validadas por uma auditoria externa.
“Hoje, a DAI — da Maker — me parece ser a opção mais segura para o investidor, pois todos os fundos ficam colateralizados como garantia. E tudo isso fica exposto no daistats.com.”
Apesar disso, Aragão e Escudero observam que o projeto DAI não tem a liquidez necessária para suportar o mercado.
Descentralização é o caminho?
Com base nisso, especula-se se a descentralização dos projetos é um caminho a ser seguido. A Maker, por exemplo, caminha para uma descentralização total.
No entanto, os analistas acreditam que talvez o mercado atual não esteja pronto para isso:
“Eu ainda não sei se estamos 100% preparados para algo que seja realmente uma DAO. É, sem sombra de dúvida, um debate que merece ser aprofundado com os players do mercado”, destacou Aragão.
Já Thiago Cesar pontuou que é difícil de afirmar se este é o caminho. Segundo ele, as stablecoins centralizadas só seriam extintas se houvesse uma regulação muito pesada que não pudesse ser cumprida por nenhum player.
“Mas, claro, as stablecoins DAOs apontam para o futuro. Os emissores das stablecoins tradicionais já estão pensando em como replicar seus próprios modelos em versões descentralizadas através de smart contracts.”
Por fim, o executivo disse acreditar que as stablecoins centralizadas e descentralizadas coexistirão no futuro ao lado das CBDCs, moedas digitais de banco central, e das criptomoedas.