Por Gustavo Bonato
SÃO PAULO (Reuters) - Chuvas voltaram a muitas regiões de Mato Grosso desde o fim de outubro e permitiram um avanço do plantio de soja em ritmo acelerado nos últimos dias, mas áreas que enfrentaram ou enfrentam um período prolongado de estiagem ainda convivem com a ameaça da necessidade de replantio.
A área plantada em Mato Grosso, principal Estado produtor de grãos no país, chegou na quinta-feira a 83,7 por cento da área total prevista para a safra 2015/16, avanço de cerca de 23 pontos percentuais em apenas uma semana, segundo dados divulgados nesta sexta-feira pelo Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea).
O índice atual de plantio é praticamente o mesmo registrado um ano atrás, mas está bem atrás dos 93 por cento de plantio vistos nessa época em 2013.
Apesar do avanço no plantio da atual safra, representantes de produtores dizem que os números não indicam o quadro completo: a atual temporada está sendo marcada por irregularidades nas chuvas, com algumas regiões ainda bastante prejudicadas pela falta de umidade.
"Tem lavouras com mais de 15 a 20 dias sem chuvas, e todo dia está tendo calor de 40 graus. Isso seca muito a planta", relatou Laércio Lenz, presidente do Sindicato Rural de Sorriso, um dos maiores municípios produtores de grãos do país.
Dados do serviço Agriculture Weather Dashboard, da Thomson Reuters, mostram que a umidade da camada mais superficial do solo no norte de Mato Grosso --região que concentra a maior parte das lavouras-- fechou outubro no menor índice dos últimos cinco anos e bem abaixo do considerado normal.
Enquanto a umidade "normal" acumulada no solo em outubro é equivalente a 319 milímetros de chuvas, o índice ficou em 180 milímetros no mês passado, praticamente sem recuperar o estoque de umidade ante setembro, tipicamente o mês de solo mais seco no ano.
"Existe um ânimo desanimado", disse o diretor técnico da Associação dos Produtores de Soja (Aprosoja) de Mato Grosso, Nery Ribas, referindo-se à volta das chuvas e ao ritmo de plantio.
"Se fala em replantio, mas não se executa ainda", completou.
Tecnicamente, áreas que passam por períodos prolongados de estiagem podem ter que ser replantadas porque as sementes não germinam adequadamente.
"Vai se fazer alguma coisa (de replantio), mas não sabe ainda quanto... Tem que esperar chover, para ver quanto vai emergir", explicou Lenz, de Sorriso.
Segundo relatório desta sexta-feira da Somar Meteorologia, os próximos cinco dias no Centro-Oeste do Brasil "serão com sol e muito calor".
"Chuvas mais generalizadas só deverão ocorrer na próxima semana e mesmo assim, somente do meio pro fim da semana que vem. Até lá a previsão é para eventuais pancadas de chuvas, muito irregulares", disse o agrometeorologista Marco Antônio dos Santos, da Somar.