Por Camila Moreira
SÃO PAULO (Reuters) - A alta do IPCA-15 chegou aos dois dígitos no acumulado em 12 meses pela primeira vez desde o início de 2016 depois de a prévia da inflação oficial brasileira ter registrado em setembro alta acima do esperado, e no nível mais elevado para o mês em 27 anos.
Em meio ao intenso movimento de aperto monetário diante das preocupações com a inflação, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) subiu 1,14% em setembro, depois de alta de 0,89% em agosto.
Esse foi o maior resultado mensal para o índice desde fevereiro de 2016 (1,42%) e a taxa mais elevada para um mês de setembro desde 1994, início do Plano Real.
Com isso, o acumulado em 12 meses chegou a 10,05%, alcançando os dois dígitos pela primeira desde os 10,84% registrados em fevereiro de 2016, segundo os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados nesta sexta-feira.
A meta oficial para este ano é de 3,75%, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos, medida pelo IPCA. A forte pressão inflacionária recente levou o Banco Central a elevar a taxa básica de juros Selic nesta semana a 6,25%, no segundo aumento seguido de 1 ponto percentual.
"Com certeza (essa inflação) pressionará o Banco Central até o próximo Copom. O mercado vai pedir alta maior que 1 ponto (percentual na Selic)", afirmou Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos.
Os resultados ficaram acima das expectativas em pesquisa da Reuters de avanços do IPCA-15 de 1,02% e 9,93% respectivamente nas comparações mensal e anual.
VILÕES
Os maiores vilões do IPCA-15 em setembro foram, mais uma vez, gasolina e energia elétrica, de acordo com os dado do IBGE.
Os combustíveis subiram em setembro 3,0% depois de alta de 2,02% no mês anterior. Somente a gasolina disparou 2,85% e acumula avanço de 39,05% nos últimos 12 meses.
Entre os outros combustíveis as altas foram de 4,55% do etanol, 2,04% do gás veicular e 1,63% do óleo diesel (1,63%). Isso levou o grupo Transportes a subir no mês 2,22%, de 1,11% em agosto. No grupo ainda se destacou o avanço de 28,76% das passagens aéreas, após a queda de 10,90% em agosto.
Já a energia elétrica subiu 3,61%, embora a taxa tenha desacelerado em relação aos 5,0% de agosto. No mês passado, vigorou a bandeira vermelha patamar 2, com acréscimo de 9,492 reais a cada 100 kWh consumidos, e a partir de 1º de setembro passou a valer a bandeira tarifária de Escassez Hídrica, que acrescenta 14,20 reais para os mesmos 100 kWh.
Esse resultado pressionou o grupo Habitação a um avanço de 1,55% em setembro, de 1,97% no mês anterior.
Com importante peso sobre o bolso do consumidor, a alimentação no domicílio acelerou de 1,29% em agosto para 1,51% em setembro, com os preços das carnes subindo 1,10%. Assim, a inflação do grupo Alimentação e Bebidas disparou a 1,27% em setembro, de 1,02% antes.
Nesta semana, depois de elevar a taxa básica de juros Selic a 6,25%, o BC indicou que irá avançar em "território contracionista" ao dar sequência ao seu agressivo ciclo de aperto monetário para domar uma inflação que tem se mostrado mais persistente e disseminada.
Choques nos preços em meio à crise hídrica e a alta do dólar frente ao real, que encarece produtos importados, têm afetado expectativas para este ano e também para o próximo. O próprio BC passou a ver inflação de 8,5% em 2021, frente a 6,5% antes.
"Pressões significativas de custos de insumos, inflação de serviços em alta, risco fiscal e político e forças inerciais estão contaminando o cenário para 2022 e devem levar o Banco Central e direcionar a Selic para território contracionista", avaliou o chefe de pesquisa econômica do Goldman Sachs (NYSE:GS) para a América Latina, Alberto Ramos.
O mercado já enxerga a inflação ao final deste ano em 8,35%, de acordo com a pesquisa Focus mais recente realizada pelo BC junto a uma centena de economistas. Para 2022 a projeção é de alta do IPCA de 4,10%.