Por Rodrigo Viga Gaier e Luciano Costa
RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO (Reuters) - A sucessão do ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, que deixará o cargo em abril para disputar eleições, tem gerado preocupação em defensores da privatização da Eletrobras (SA:ELET3), à medida que políticos contrários às medidas propostas para a estatal ganham força na definição do novo chefe da pasta, disseram à Reuters duas fontes com conhecimento do assunto.
O senador Edison Lobão (MDB-MA), que chegou a chefiar a área nos governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, tem conseguido retomar a influência sobre o setor elétrico e poderá indicar o próximo ministro, disseram as duas fontes, que falaram sob a condição de anonimato porque as conversas sobre o tema ainda correm em sigilo.
O senador Eduardo Braga (MDB-AM), que também foi ministro de Minas e Energia no governo Dilma, também tem se movimentado para nomear alguém para a pasta, adicionou uma das fontes.
Segundo uma das fontes, o sucesso de Lobão ou Braga na disputa pelo ministério pode até mesmo inviabilizar a privatização de seis distribuidoras de energia da Eletrobras que atuam no Norte e Nordeste, cujo leilão o governo federal tem dito que pretende realizar até maio.
"É o pior cenário para os trabalhadores das empresas, para os fornecedores e para a Eletrobras, mas é um cenário possível hoje", afirmou a fonte, que vê "forças que estão trabalhando para sabotar a privatização".
A segunda fonte disse ver o mesmo movimento, que poderia "fazer água" com os planos de desestatizar as distribuidoras da estatal e posteriormente a própria Eletrobras.
"Quanto mais para o lado do Lobão a sucessão for, mais comprometida fica a agenda... temos mais 15 dias para ver para que lado o governo vai... pode ser a continuidade do avanço ou um retrocesso", afirmou.
Em relatório na semana passada, a consultoria de risco político Eurasia escreveu que as movimentações de Braga e Lobão, se confirmadas, serão "um sinal ruim" para o plano de privatização.
Segundo a consultoria, o mercado trabalha com a expectativa de que a pasta será assumida pelo atual secretário-executivo, Paulo Pedrosa, ou o secretário de petróleo e gás, Márcio Félix, e um caminho diferente poderia levar à renúncia de quadros técnicos da pasta.
Uma das fontes confirmou à Reuters que haverá a saída de técnicos importantes de Minas e Energia caso se confirme a opção por um nome indicado por Lobão e Braga.
O ministro Coelho Filho tem dito publicamente que sairá do cargo em abril para disputar eleições em seu Estado natal, Pernambuco.
Por outro lado, os senadores Lobão e Braga já têm avançado para retomar seus espaços no setor de energia.
A Reuters publicou em janeiro que Lobão pretende indicar seu apadrinhado André Pepitone para ser o próximo diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) em agosto, quando vence o mandato do atual chefe do órgão regulador, Romeu Rufino.
Já Braga foi eleito recentemente para presidir uma comissão mista criada no Congresso Nacional para analisar uma medida provisória sobre a privatização da Eletrobras, a MP 814/2017.
O senador Eduardo Braga, por meio da assessoria de imprensa, negou a movimentação para indicar um nome para a pasta de Minas e Energia. "Esta informação não procede", disse em nota. A equipe de Lobão não respondeu de imediato a pedidos de comentário.