Investing.com - A economia brasileira ainda tenta se recuperar dos efeitos da pandemia de Covid-19 e analisar o quanto o reflexo das medidas econômicas pesam sobre os preços dos produtos e serviços nos últimos anos. De acordo com a análise feita pela Guide Research, embora a maior parte da inflação durante o período de lockdown foi de "oferta", quando há uma elevação dos gastos de insumos, ainda houve um crescimento da chamada "inflação de demanda", quando o aumento dos preços é decorrente da procura crescente por um determinado bem ou serviço.
Inflação: Estamos em uma crise de preços ou crise de oferta? Entenda no vídeo:
Um dos argumentos mais usados entre os críticos à decisão do Copom em manter a Selic em 13,75% é que a inflação hoje não é majoritariamente de demanda, e, portanto, a resposta com uma política monetária contracionista não seria adequada.
"A maior parte da inflação a partir de 2020 é realmente de oferta. Olhando para trás, períodos como de 2013 - 2016 também temos uma inflação majoritariamente de oferta, o que faz sentido econômico, dado que a alta dos preços de energia elétrica e combustíveis corresponderam à boa parte do surto inflacionário", afirmam os analistas Victor Beyruti, Rafael Pacheco e Fernando Siqueira.
O método utilizado para decompor o IPCA entre oferta e demanda no relatório foi baseado em estudos do Federal Reserve Bank de São Francisco. Foram selecionados componentes do índice que são mais sensíveis às condições de oferta global, agrupando-os em um “núcleo” sensível à oferta. Por exclusão, o time de research chegou ao núcleo insensível às condições de oferta, chamado por "núcleo de demanda".
Ainda de acordo com o documento, se é verdade que a maior parte da alta da inflação na pandemia veio de pressões na cadeia de oferta global, também seria correto afirmar que a desinflação que veio em seguida partiu destes componentes, enquanto o restante ficou praticamente estável. "Isso vai em linha com o cenário traçado no BC, de uma desinflação “faseada” com uma maior velocidade em um primeiro momento e depois uma mais demorada", completam.
Na avaliação, o estudo relata que a piora das condições econômicas vigentes no país, com retração do crédito, perda de impulso do setor de serviços e a manutenção de um juro - ainda que menor - ainda em patamar bastante restritivo, deve contribuir com um movimento mais claro de desinflação. A composição também deve mostrar um padrão de redução do ritmo de alta de preços mais sustentável.