Por Yasin Ebrahim
Investing.com – Enquanto a possibilidade de um enorme aumento de juros pelo Federal Reserve roubava a atenção do mercado na semana passada, alguns analistas de Wall Street silenciosamente passaram a prever algo completamente diferente: cortes de juros.
“Estamos agora considerando cortes de juros pelo Fed no segundo semestre do ano que vem e na primeira metade de 2024”, afirmou Mark Cabana, diretor de estratégia de juros curtos nos EUA do BofA (NYSE:BAC) (BVMF:BOAC34) Merrill Lynch Global Research, em entrevista à Bloomberg no início desta semana.
Cabana declarou ainda que, como a economia americana “já se encontra em recessão” e espera ver um crescimento negativo em cada trimestre deste ano, o ciclo de alta das taxas do Fed “será limitado”, citando a revisão das previsões dos economistas do BofA.
A perspectiva de elevação de juros ocorreu durante uma semana repleta de altos e baixos, em que os mercados praticamente precificaram um aumento histórico de 1% nas taxas do Fed em julho, após dados mostrarem um salto de 9,1% na inflação geral em junho, mas acabaram revertendo essas apostas no dia seguinte.
As chances de um aumento de 100 pontos-base em julho atingiram 85% na quarta-feira, mas caíram para 30% na sexta-feira, de acordo com a ferramenta Monitor de Juros do Fed do Investing.com, depois que as autoridades do banco central americano afastaram a expectativa de um aumento maior nas taxas.
“Eu não quero exagerar nos aumentos de juros”, declarou o dirigente do Fed, Christopher Waller, na quinta-feira, acrescentando que os mercados “se precipitaram” em relação a uma elevação de 100 pontos-base.
Enquanto os mercados continuam precificando uma recessão, o Fed parece não estar disposto a aceitar que uma recessão é o remédio que a economia tanto precisa para se livrar da inflação aquecida.
“Não estamos tentando provocar – e não acho que precisaremos provocar – uma recessão", afirmou o presidente do Fed, Jerome Powell, em uma entrevista no mês passado.
Esse objetivo do Fed de tentar evitar uma recessão é “um tanto ingênuo”, afirmou Dean Smith, estrategista-chefe e gestor de portfólio da FolioBeyond, em uma entrevista recente ao Investing.com. “A única forma de trazer a inflação para baixo é reduzir a demanda agregada”.
“É muito mais importante quebrar a espinha dorsal da inflação do que evitar uma recessão, pois um ou dois anos com uma inflação de oito, nove ou até 10% geram muito mais transtornos às pessoas vulneráveis do que um ou dois trimestres de recessão”, complementou Smith.
A divulgação de dados econômicos mais fortes na sexta-feira, como as vendas no varejo, mostrou que os gastos dos consumidores continuam vigorosos, levando economistas do Jefferies a sugerir que a economia americana está a salvo de uma recessão neste ano, caso haja um pico nos vetores de inflação, como energia e alimentos.
A economia do país, entretanto, pode registrar uma recessão “prolongada” no ano que vem, de acordo com o Jefferies, já que o Fed "não será capaz de socorrê-la imediatamente".
“Portanto, ainda há muito com que se preocupar, mas os próximos meses podem gerar uma sensação de alívio tanto para os consumidores quanto para os investidores”, concluiu.