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Analistas divergem sobre trajetória dos juros após PIB do 1o tri elevar projeções para atividade

Publicado 01.06.2023, 14:35
Atualizado 01.06.2023, 15:17
© Reuters. Consumidora faz compras em supermercado de São Paulo
11/01/2017
REUTERS/Paulo Whitaker

Por Camila Moreira

SÃO PAULO (Reuters) - O resultado do Produto Interno Bruto do primeiro trimestre provocou revisões para cima nas projeções para a economia brasileira este ano, mas analistas ainda avaliam o impacto potencial para a política monetária, apontando um quebra-cabeça à frente do Banco Central.

Entre os dados que o BC terá que pesar, estão alguns resultados recentes favoráveis do lado da inflação, a despeito de núcleos ainda elevados, e um mercado de trabalho resiliente.

De forma geral, economistas ressaltaram que o crescimento de 1,9% do PIB em comparação com o quarto trimestre de 2022 foi calcado basicamente no forte desempenho da agropecuária diante de uma safra recorde de soja, algo relativamente pontual, notando que o detalhamento dos dados não mostra outros números tão fortes.

"Apesar desse dado positivo, não é suficiente para alterar a política monetária, de certa forma ele é artificial. Existem dois outros fatores que estão à frente, que são as contas públicas e a inflação", afirmou Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital.

O país vêm mostrando uma desinflação em curso, mas ao mesmo tempo os núcleos dos preços seguem elevados e as expectativas de inflação não mostram sinais contudentes de arrefecimento. Soma-se a isso um mercado de trabalho aquecido e novas medidas de transferência de renda pelo governo, em meio à tramitação do novo arcabouço fiscal no Congresso.

Para Argenta, o BC deve primeiro sinalizar um corte de juros, para só na reunião seguinte promover uma redução, o que pode acontecer no encontro de agosto, com um movimento cauteloso. Ela calcula que 2023 termina com a Selic a 12,5% e o ciclo de afrouxamento se encerra nos primeiros meses de 2024 com a taxa em 9%.

Nos mercados futuros de juros, a maioria dos operadores continuava precificando cortes da Selic a partir do segundo semestre, com as apostas para uma primeira redução divididas entre agosto e setembro.

Marco Caruso, economista-chefe do Banco Original, foi um dos vários que revisaram para cima sua projeção para o crescimento econômico deste ano --de 0,9% para 1,7%--, e ressaltou que pode haver tentativa de repasse de preços de serviços já que o setor vem mostrando resiliência e o mercado de trabalho, força.

"As condições macro para corte de juros não estão aí, fora pressões que devem continuar vindo em cima de preços importantes como serviços, além de não vermos claramente uma redução das expectativas de inflação", disse ele, que ainda tem "como cenário base corte de juros mais para depois do que para antes, na reunião de 31 de outubro e 1 de novembro".

Caruso calcula um primeiro corte de 0,25 ponto percentual e a Selic encerrando o ano a 13% e caindo a 9% até 2025.

Claudia Moreno, economista do C6 Bank, também ressaltou a resiliência de serviços e o patamar elevado da inflação, destacadamente dos núcleos.

"Os dados melhoraram, mas fato é que ainda temos uma inflação em patamar elevado e as projeções do BC ainda não são condizentes com queda da taxa de juros", disse ela, ressaltando no entanto que a comunicação da autoridade monetária indica abertura para afrouxamento no segundo semestre.

"É fato que o mercado de trabalho está mais apertado, e isso é positivo para economia, mas por outro lado, para um BC que está tentando combater a inflação alta, a inflação de serviços tende a cair mais lentamente", completou.

Moreno destacou ainda a reunião de junho do Conselho Monetário Nacional, que definirá a meta de inflação para 2026 mas pode trazer alterações nas regras do regime de metas em si, ou nos objetivos para 2024 e 2025.

Seu cenário aponta para uma meta de inflação de 4,5% em 2026, com a possível elevação dos objetivos para os dois anos anteriores, atualmente definidos em 3%.

© Reuters. Consumidora faz compras em supermercado de São Paulo
11/01/2017
REUTERS/Paulo Whitaker

"Com isso, abre espaço para cortar juros a partir de setembro", disse ela, vendo a Selic ao fim deste ano em 12,5% e o fim do ciclo de afrouxamento no início de 2024, com a taxa em 11%.

Por outro lado, Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, vê a Selic em 13,75% até abril de 2024, ao considerar que a atividade econômica está bastante aquecida.

"Notadamente, o sobreaquecimento da atividade reforça nossa perspectiva pressionada de inflação, a redução da sensibilidade da economia à restrição de política monetária e, consequentemente, a sustentação da Selic em 13,75% por tempo suficientemente prolongado", disse ele.

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