Investing.com - No domingo (17/4), enquanto os olhos do Brasil estarão voltados para a votação do impeachment de Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados, os países produtores de petróleo estarão reunidos em Doha, capital do Qatar, tentando fechar um acordo para pôr fim à temporada de preços baixos da commodity.
Apesar de, no curto prazo, as ações da Petrobras (SA:PETR4) estarem mais conectadas ao desenrolar de Brasília, em algum momento, o possível acordo de Doha entre a Opep e demais países produtores, como a Rússia, chegará ao investidor da petroleira.
A Agência Internacional de Energia (EIA) estimou ontem (14) que o excedente de petróleo deve cair de 1,5 milhão b/d no primeiro semestre para 200 mil b/d no segundo. A expectativa com Doha é tal que, com dados da China e dos EUA, o barril do Brent já acumula alta de 11% em abril, até o fechamento de quinta-feira, cotado a US$ 43,78.
“Está precificado nas ações da Petrobras o petróleo acima de US$ 35. Se tiver um grande fracasso e o petróleo voltar a US$ 25, todas as ações vão cair”, avalia o sócio-diretor da WhatsCall Research, Flávio Conde.
A chave do acordo em Doha será um consenso entre aqueles que tentam recuperar mercado, como Irã e Iraque (Líbia, que enfrenta uma guerra civil, não deve participar) e países que almejam recuperação de preços, como Rússia e Venezuela. Todos também deverão dialogar com os interesses da Arábia Saudita, capaz de elevar sua produção, que está limitada em 10,2 milhões de b/d há três meses.
“Com a grande competição dos países fora da Opep, a indústria perdeu capacidade de coordenação, que aos poucos vai sendo reconstruída. Difícil é chegar ao acordo, porque tem que ver quem vai cortar”, avalia o pesquisador do Grupo de Economia de Energia (GEE) da UFRJ, Edmar Almeida.
Almeida também lembra que o preço do petróleo é crucial para o bom resultado do plano de desinvestimento da Petrobras, impactando diretamente o valor de liquidação dos ativos.
O Morgan Stanley (NYSE:MS) estima 70% de chance de acordo em Doha, com um Irã colaborativo, mas sem compromisso imediato de limitar a produção. Neste cenário, deve ocorrer uma “alta limitada” no valor do barril, prevê o relatório assinado pelos analistas Adam Longson, Ashley L Petersen e Elizabeth Volynsky.
O relatório contempla, contudo, dois cenários extremos: forte alta com Irã disposto a limitar produção e sinais de mais colaboração ser tomadas em junho, na próxima reunião da Opep; e um cenário oposto, em que não se chega a um consenso e acirram-se tensões entre os membros do cartel, levando preços a despencarem.