Atenas, 24 fev (EFE).- A Grécia lançou nesta sexta-feira a oferta oficial para realizar uma troca de bônus estatais, que prevê o perdão de 107 bilhões de euros de sua dívida nas mãos de bancos e outros investidores privados, informou a Agência de Gestão da Dívida Pública Grega.
Este processo está previsto dentro do último plano de resgate no valor de 130 bilhões pactuado pelo Eurogrupo na noite da segunda-feira e que na prática leva ao perdão de 53,5% do montante dos bônus detidos pelos credores privados.
Os bônus serão substituídos por novos títulos de dívida gregos por um valor de 30,5% dos atuais, de 20 anos de vencimento a contar desde 2023, mais outros com valor de 15% emitidos pelo Mecanismo Europeu de Estabilidade Financeira (EFSF, na sigla em inglês), com vencimento a dois anos.
Com este perdão, o objetivo é reduzir a avultada dívida estatal de 360 bilhões de euros, cerca de 160% do Produto Interno Bruto do país, até 120% em 2020, considerado um nível sustentável.
O processo de troca, que durará cerca de duas semanas, será seguido pelas autoridades gregas em tempo real, o que permitirá saber de forma diária quantos investidores aceitaram trocar os bônus.
O anúncio formal do programa de troca aconteceu após uma reunião do Conselho de Ministros no qual trataram sobre a aplicação das últimas medidas de austeridade aprovadas no Parlamento.
"Estamos fazendo um esforço titânico para assegurar o apoio financeiro para o país", disse aos jornalistas o chefe do Governo, Lucas Papademos, ao abandonar a reunião.
A legislação sobre o perdão da dívida, aprovada na quinta-feira pelo Parlamento grego, inclui um mecanismo chamado Cláusulas de Ação Coletiva (CAC) que obrigará aos detentores da dívida grega a participar do perdão se a maioria dos credores apoiar a reestruturação.
Uma vez a metade dos detentores do montante de dívida aceitarem o perdão da dívida, esse processo terá início.
As agências de classificação de risco anunciaram que o uso destas cláusulas será considerado como "falta de pagamento" que ativaria os seguros de falta de pagamento creditício (CDS).
Segundo alguns analistas, isso poderia estender a instabilidade financeira pelo contágio aos bancos que tenham emitido este tipo de seguros.
No entanto, Charles Dallara, diretor do Instituto Internacional de Finanças (IIF), que representa o interesse dos grandes bancos nas negociações sobre o perdão da dívida, afirmou na quinta-feira no canal inglês "BBC" que "a maioria" dos investidores está disposta a acolher o perdão de forma voluntária.
"Eles não consideram isto como uma questão de caridade, mas avaliam com uma perspectiva de custos e benefícios a longo prazo", explicou o banqueiro.
O Governo dedicará boa parte do novo empréstimo europeu a financiar esta operação através de incentivos aos bancos (30 bilhões de euros) e fundos destinados à recapitalização bancária (50 bilhões), algo que motivou a denúncia da esquerda grega. EFE