Por Ana Beatriz Bartolo
Investing.com - O Comitê de Política Monetária (Copom) divulgou na manhã desta terça-feira, 21, a Ata da sua reunião realizada na última semana, quando decidiu elevar a taxa Selic para 13,25% ao ano. O colegiado reforçou a sua preocupação com a alta dos preços, mas também admitiu que a inflação está mais persistente do que a esperada.
Para especialistas ouvidos pela reportagem de Investing.com, o órgão de política monetária sinalizou que deverá manter por um período mais longo de juros elevados.
O economista-chefe da RPS Capital, Victor Candido, o principal destaque da Ata do Copom é o reconhecimento de que não será possível cumprir a meta de inflação de 2023 caso a entidade siga o que é dito no Boletim Focus.
“Quando o Copom pega o que o mercado acha para a inflação e para os juros de 2022 e 2023, e coloca isso em um modelo estatístico para avaliar as premissas futuras, o retrato que ele está observando é que a inflação ficará acima da meta, ao redor de 4% se a Selic terminar este ano em 13,25%, e fechando o próximo ano em 10%”, explica Candido.
Dessa forma, o economista da RPS diz que o Copom está tentando passar a mensagem de que o juros no país deve ficar mais elevado e por mais tempo do que o previsto inicialmente. A expectativa de Candido é que o comitê suba a taxa de juros em 0,25 p.p. na próxima reunião, para 13,50% ao ano e deixe a taxa Selic nesse patamar até pelo menos o segundo semestre de 2023.
O Bank of America (NYSE:BAC) (BofA) também considera que o cenário mais provável é de extensão do ciclo de aperto monetário, apesar de estimar uma alta nos juros de 0,5 p.p. na próxima reunião do Copom marcada para agosto. Para 2023, o BofA estima que a Selic seja reduzida para 10,5% ao longo do ano.
“O BC reconhece que o ajuste da política monetária feito até agora foi intenso, porém, seus efeitos contracionistas devem ser sentidos nos próximos trimestres, desacelerando a atividade econômica”, comenta o banco internacional em relatório divulgado hoje.
Já a Ativa Investimentos considera que a Ata do Copom teve um tom ambíguo. Para Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa, o Comitê foi Hawkish ao discutir os possíveis cenários para a inflação, mas também teve um tom neutro ao falar que a trajetória dos juros é o suficiente para a convergência da inflação.
“A autoridade faz questão de pontuar que para tomar a decisão estava olhando exclusivamente para a perspectiva inflacionária de 4,0% (2023), e a mesma exige esforço adicional de política monetária para convergir, através de mais juros por período mais prolongado do que o cenário de referência”, comenta Sanchez.
Assim, a Ativa mantém a sua previsão de que o Copom deve aumentar os juros em 0,50 p.p. em agosto e manter o patamar dos 13,75% até o segundo trimestre de 2023, quando deve reduzir gradativamente a taxa Selic para 10,25% ao ano.
A economista-chefe da Tenax Capital, Débora Nogueira, também concorda com essa previsão de que os juros devem subir 0,50 p.p. na próxima reunião e depois devem ser mantidos assim pelo resto do ano.
Nogueira destaca que o Copom já está de olho na desaceleração da economia brasileira, após passarem os efeitos positivos da reabertura econômica pós-pandemia e do impulso fiscal. A especialista, porém, chama a atenção para o fato de que a Ata não se aprofunda nos impactos que a situação fiscal do país terão sobre a inflação.
Cenário internacional
Sobre o cenário internacional, a Ata do Copom destacou que o conflito entre a Rússia e a Ucrânia continua levando a um forte aperto nas condições financeiras e maior incerteza. O choque de oferta resultante do conflito intensificou ainda mais as pressões inflacionárias pós-Covid, assim como os bloqueios na China que também afetaram a cadeia global de suprimentos.
O BofA também ressalta que o Comitê decidiu manter o cenário de referência, em que o preço do petróleo em dólar segue a curva do mercado futuro até o final de 2022, encerrando o ano em US$ 110 o barril e subindo 2% ao ano a partir de 2023.
Nesse cenário, o Copom revisou suas previsões de inflação de 7,3% para 8,8% para 2022, e de 3,4% para 4% para 2023.