Por Iuri Dantas
SÃO PAULO (Reuters) - Grandes bancos modificaram suas apostas para a trajetória da taxa básica de juros do Brasil depois que o Banco Central reduziu a Selic para o menor nível da história e diante das dúvidas sobre se o governo Michel Temer será capaz de aprovar a reforma da Previdência neste ano na Câmara dos Deputados.
Em um movimento amplamente esperado pelo mercado, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC baixou a taxa básica para 7 por cento ao ano na quarta-feira, ante 7,5 por cento ao ano antes, e afirmou que novos passos da política monetária precisam ser adotados com cautela.
A leitura do comunicado e o comportamento benigno da inflação levaram o Credit Suisse a alterar sua expectativa, passando a esperar mais uma redução da Selic em fevereiro contra estabilidade vista antes. No comunicado, o Copom revisou sua expectativa para a alta do IPCA neste ano a 2,9 por cento, ante 3,3 por cento anteriormente, valor que ficaria abaixo da meta oficial.
"Achamos que o Copom também sinalizou que esse corte de 25 pontos básicos seria provavelmente o último corte da taxa de juros do ciclo atual de afrouxamento monetário, ao mencionar (cautela)", disse a equipe econômica de Brasil do Credit Suisse em comunicado.
O BC "telegrafou" uma nova redução moderada no ritmo de cortes em fevereiro, na avaliação do BTG Pactual (SA:BPAC11), ao divulgar que adotará "cautela".
Por outro lado, ainda não é possível saber se essa palavra indica que o BC fará um novo balanço de riscos e deixará a Selic inalterada em fevereiro, se Ilan Goldfajn e sua equipe querem desencorajar esperanças de cortes adicionais além de fevereiro, ou ambas as possibilidades, disse o BTG em comunicado.
"Talvez a ata do Copom vai solucionar algumas dessas dúvidas finas textuais, mas por agora estamos levando em conta a parte central do comunicado e mudando nosso call para o nível final da Selic neste ciclo para 6,75 por cento, após corte de 25 pontos básicos que agora esperamos em fevereiro", afirma a nota do BTG, assinada pelo economista Eduardo Loyo.
Em uma linha diferente, o Itaú Unibanco já esperava um corte em fevereiro antes da decisão do Copom, mas modificou suas projeções diante do risco de que a reforma da Previdência não seja aprovada pelo Congresso. O banco baixou de 0,5 para 0,25 ponto sua expectativa para o corte da Selic em fevereiro.
"Reconhecemos que a ausência de progressos na agenda de reformas e de ajuste fiscal tornaria o segundo corte de 0,25 pontos porcentuais menos provável e, consequentemente, aumentaria a chance do ciclo de flexibilização terminar com a taxa Selic em 6,75 por cento."
As chances de votação da reforma da Previdência na próxima semana estão menores, disse à Reuters uma liderança governista, devido a resistências de partidos aliados como o PRB, o PR e o PSD.
Nesta sessão, o dólar operava com forte alta ante o real, anulando a queda acumulada nos últimos quatro pregões e se aproximando dos 3,30 reais, diante da cautela com as chances de o governo conseguir votar a reforma da Previdência em breve devido à dificuldade de conquistar apoio político suficiente.