Por Marcela Ayres
BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central cortou nesta quarta-feira a taxa básica de juros em 1 ponto percentual, a 11,25 por cento ao ano, acelerando o passo de redução da Selic, como previa o mercado, em meio ao cenário de desinflação e fraqueza da economia.
O BC disse que a manutenção desse ritmo de corte dos juros vai depender da evolução da atividade econômica, dos fatores de risco e das projeções e expectativas de inflação. Entre os fatores de risco, o BC incluiu o avanço das reformas, principalmente de cunho fiscal.
"O Comitê considera o atual ritmo (de corte da Selic) adequado, entretanto, a atual conjuntura econômica recomenda monitorar a evolução dos determinantes do grau de antecipação do ciclo", afirmou o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC em comunicado. A decisão foi unânime.
No documento, o BC elevou a projeção para o IPCA a 4,1 por cento em 2017 pelo cenário de mercado, ante 4,0 por cento no Relatório Trimestral de Inflação, divulgado no mês passado, mas ainda abaixo do centro da meta de 4,5 por cento. Para 2018, a estimativa permaneceu no patamar de 4,5 por cento.
O cenário de mercado considera as projeções da pesquisa Focus mais recente, com a Selic a 8,5 por cento tanto ao fim de 2017 quanto em 2018. No Relatório de Inflação, essas projeções eram de 9,0 e 8,5 por cento, respectivamente. Portanto, ao fazer uma pequena variação para cima em seu cálculo para o IPCA em 2017, mesmo já incorporando uma redução maior nos juros, o BC sinaliza que segue vendo bastante espaço para reduzir a Selic daqui para frente.
A decisão desta quarta-feira era amplamente esperada pelo mercado. Em pesquisa Reuters, 46 dos 47 economistas consultados previam que o BC reduziria a Selic nessa magnitude, com apenas um vendo corte de 1,25 ponto.
No atual ciclo de afrouxamento monetário, iniciado em outubro, o Copom cortou duas vezes a Selic em 0,25 ponto percentual e duas vezes em 0,75 ponto percentual. A última redução de 1 ponto tinha sido feita em junho de 2009, quando a taxa passou de 10,25 a 9,25 por cento ao ano.
Economistas já esperavam aceleração no corte dos juros e o próprio BC havia dado sinais nesse sentido, quando destacou que o panorama atual fortalecia a possibilidade de "intensificação moderada" no ritmo de flexibilização monetária.
"Essa intensificação moderada em relação ao ritmo das reuniões de janeiro e fevereiro mostra-se, no momento, adequada", trouxe o BC nesta quarta-feira, repetindo que a convergência da inflação para a meta de 4,5 por cento no horizonte relevante para a condução da política monetária, que inclui os anos-calendário de 2017 e, com peso gradualmente crescente, de 2018, é compatível com o processo de flexibilização monetária.
Para o economista do Santander (SA:SANB11) Luciano Sobral, o BC não se comprometeu em relação aos próximos passos que dará.
"Ele diz que esse ritmo atual é adequado dadas as informações disponíveis, mas pode ajustar esse ritmo. Vai depender de como os dados econômicos evoluírem até lá. Se eventualmente os dados de atividade econômica forem mais fracos que o esperado e a inflação mais baixa do que o esperado, pode ser que ele acelere esse ritmo."
A inflação vem cedendo de maneira pronunciada mesmo no setor de serviços, que o BC vinha acompanhando com maior cautela. Nos 12 meses até março, o IPCA registrou avanço de 4,57 por cento, muito próximo do centro da meta.
Em seu comunicado, o BC cravou que o processo de desinflação se difundiu e houve consolidação da desinflação nos componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária, de maneira que comportamento da inflação permanece favorável.
A autoridade monetária também passou a listar a aprovação e implementação das reformas, principalmente de natureza fiscal, na sua lista de fatores de risco, elevando-os para quatro, ao invés de três.
Contudo, não fez menção direta à reforma da Previdência após o governo ter dado carta branca para flexibilização da proposta original, prevendo com isso redução de até 160 bilhões de reais na economia que havia calculado para 10 anos.
As perspectivas para aprovação da reforma também ficaram mais turvas após o relator da operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, ministro Edson Fachin, autorizar na véspera a abertura de 76 inquéritos contra parlamentares, ministros de Estado e outras autoridades a partir das delações feitas por executivos da Odebrecht.
(Reportagem adicional de Silvio Cascione)