Por Marcela Ayres
BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central reduziu nesta quarta-feira a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual, para 14 por cento ao ano, em decisão unânime, no primeiro corte desde 2012, diante do cenário de menor inflação e com a atividade econômica ainda sem dar sinais consistentes de recuperação.
Apesar de falar em movimento moderado e gradual, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC deixou aberta a possibilidade de acelerar em breve o ritmo de corte deste ciclo de afrouxamento iniciado agora, desde que veja maior desinflação do setor de serviços e mais avanços no ajuste fiscal.
"O Comitê entende que a convergência da inflação para a meta para 2017 e 2018 é compatível com uma flexibilização moderada e gradual das condições monetárias", informou o BC. "O Comitê avaliará o ritmo e a magnitude da flexibilização monetária ao longo do tempo, de modo a garantir a convergência da inflação para a meta de 4,5 por cento", acrescentou.
Em pesquisa Reuters, a mediana das expectativas apontava para redução 0,25 ponto percentual na Selic. Dos 50 economistas consultados, no entanto, 23 previram esse movimento e outros 23 estimaram corte de 0,5 ponto percentual, enquanto que quatro apontaram a manutenção da taxa básica.
A última redução da Selic ocorreu em outubro de 2012, quando a taxa passou de 7,50 para 7,25 por cento ao ano, menor patamar histórico. Depois disso, as decisões da autoridade monetária foram sempre no sentido de manter ou elevar os juros.
Desde julho do ano passado a Selic estava em 14,25 por cento ao ano, nível visto por alguns especialistas como excessivo diante da pior recessão econômica em décadas.
Ao ponderar qual será a dinâmica dos cortes na Selic daqui para frente, o BC afirmou que "uma possível intensificação do seu ritmo" vai depender de evolução favorável de fatores que acompanha de perto, de modo a ter maior confiança no alcance das metas para a inflação no horizonte relevante para a política monetária, que inclui 2017 e 2018.
Desta vez, o BC destacou dois e não mais três pontos em relação aos quais deve ver melhorias: que componentes do IPCA mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica retomem claramente uma trajetória de desinflação em velocidade adequada, numa referência aos preços de serviços; e que o ritmo de aprovação e implementação dos ajustes na economia ajudem no processo de desinflação.
"O Comitê avaliará a evolução da combinação desses fatores", disse o BC, deixando de mencionar a evolução da inflação de alimentos como o outro pilar, em meio ao alívio recente mostrado nesse grupo de preços.
"Até o final de novembro ... já deve estar quase que concluído o processo de aprovação (da PEC dos gastos) na Câmara e no Senado", afirmou a economista do banco Santander (SA:SANB11), Tatiana Pinheiro, acrescentando ser "bastante alta" a chance de corte maior na Selic em novembro, de 0,5 ponto, quando o Copom se reúne novamente.
Sobre os riscos para o cenário básico para a inflação, o BC ponderou, de um lado, "que há sinais de pausa recente no processo de desinflação dos componentes do IPCA mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária, o que pode sinalizar convergência mais lenta da inflação à meta".
Do lado positivo, assinalou dentre suas novas mensagens que a inflação mostrou-se mais favorável no curto prazo, o que pode sinalizar menor persistência no processo inflacionário, avaliando também que os primeiros passos no processo de ajustes necessários na economia foram positivos, o que pode sinalizar aprovação e implementação mais céleres que o antecipado.
Para o economista-chefe da Haitong, Jankiel Santos, a desinflação de serviços seguirá em curso e a votação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que limita os gastos públicos também deverá avançar, ainda que seja sujeita à maior incerteza.
"Acreditamos que o BC contará com elementos mais consistentes e deverá acelerar o ritmo de ajuste para 0,50 ponto percentual no próximo encontro, apesar da cautela apresentada hoje, tanto na decisão, como na comunicação com os agentes econômicos", afirmou Santos, em nota.
Já a economista-chefe da Rosenberg Associados, Thaís Zara, afirmou que aguardará a ata do Copom para ajustar suas expectativas, mas que deve mudar a previsão de corte para 0,25 ponto na próxima reunião do colegiado, ante 0,5 ponto percentual atualmente, após um comunicado que considerou bastante duro e mais conservador que o esperado.
"(BC) sinalizou que para aumentar a magnitude do corte vai precisar de condições favoráveis tanto de alguns componentes do IPCA quando da implementação dos ajustes. Então a princípio ele mantém o ritmo de 0,25 (p.p). Só se ele tiver uma melhora nesses fatores que ele vai intensificar para meio (ponto percentual)", afirmou.
PREVISÕES
No comunicado, o BC reduziu a projecção de inflação de 2017, pelo cenário de referência, para em torno de 4,3 por cento, e divulgou uma perspectiva para 2018 de cerca de 3,9 por cento. No relatório trimestral de inflação, divulgado no fim de setembro, o BC havia previsto IPCA um pouco mais alto para 2017, de 4,4 por cento, mas ligeiramente mais baixo para 2018, de 3,8 por cento.
Para 2016, o BC diminuiu a projecção de inflação a cerca de 7,0 por cento, contra 7,3 por cento .
O centro da meta de inflação deste ano e dos dois próximos é de 4,5 por cento pelo IPCA, mas com margens de tolerância diferentes. Para 2016, essa banda é de 2 pontos percentuais, caindo a 1,5 ponto para 2017 e 2018.
Nos 12 meses até setembro, o IPCA acumula alta de 8,48 por cento. Economistas ouvidos pelo BC na mais recente pesquisa Focos estimavam que a inflação encerrará o ano em 7,01 por cento, caindo a 5,04 por cento em 2017.
(Reportagem adicional de Silvio Cascione)