Por Marcela Ayres
BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central cortou nesta quarta-feira a taxa básica de juros em 1 ponto percentual, a 9,25 por cento ao ano, dentro do esperado e mantendo o ritmo de afrouxamento da Selic diante do comportamento favorável da inflação e fracos sinais de recuperação econômica.
A autoridade monetária continuou indicando que a crise política é ainda um fator que merece atenção, mas abrandou sua avaliação sobre a interferência dela na condução da atual política monetária, ao afirmar que o impacto da recente queda da confiança na atividade tem sido limitado. E acrescentou:
"Para a próxima reunião, a manutenção deste ritmo dependerá da permanência das condições descritas no cenário básico do Copom e de estimativas da extensão do ciclo", destacou o BC em comunicado.
"O ritmo de flexibilização continuará dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos, de possíveis reavaliações da estimativa da extensão do ciclo e das projeções e expectativas de inflação", completou.
O BC também diminuiu a projeção de inflação pelo cenário de mercado para em torno de 3,6 por cento em 2017, ante 3,8 por cento em sua última estimativa, feita em junho no relatório trimestral de inflação. Para 2018, a perspectiva de alta do IPCA caiu a 4,3 por cento, contra 4,5 por cento antes.
Em pesquisa Reuters, 33 de 36 analistas consultados previam um corte desta magnitude. Este foi o sétimo corte seguido na Selic, levando a taxa ao nível mais baixo desde agosto de 2013 (9 por cento). No atual ciclo, o BC reduziu a Selic em 0,25 ponto percentual por duas vezes, seguidas por outras duas de 0,75 ponto e duas de 1 ponto.
"O recente aumento de incerteza quanto ao ritmo de implementação de reformas e ajustes na economia impactou negativamente índices de confiança dos agentes econômicos. No entanto, a informação disponível sugere que o impacto dessa queda de confiança na atividade tem sido, até o momento, limitado", trouxe o Copom.
Em maio, na reunião anterior, o BC chegou a dizer que uma desaceleração do ritmo de corte seria adequada agora em julho em função do cenário com mais incertezas, após delações de executivos da JBS (SA:JBSS3) colocarem em xeque o governo do presidente Michel Temer.
O temor era de que o ambiente conturbado travasse o andamento de reformas consideradas essenciais para a retomada do reequilíbrio nas contas públicas, como a da Previdência, que segue estacionada na Câmara dos Deputados.
Ainda sobre o cenário político conturbado, o BC afirmou no comunicado de agora que "os efeitos de curto prazo do aumento de incerteza quanto ao ritmo de implementação de reformas e ajustes na economia não se mostram inflacionários nem desinflacionários", repetindo comentários recentes feitos pelo presidente da autoridade monetária, Ilan Goldfajn.
O BC também apontou que o comportamento da inflação permanece favorável e com desinflação difundida.
A inflação tem perdido força e surpreendido os agentes econômicos. O IPCA-15, prévia da inflação oficial, foi abaixo do piso da meta de inflação em julho, no acumulado em 12 meses, abrindo ainda mais o espaço para cortes mais intensos na Selic. A meta neste ano é de 4,5 por cento pelo IPCA, com banda de tolerância de 1,5 ponto para mais ou para menos.
Na pesquisa Focus mais recente, economistas estimaram avanço de 3,33 por cento para o IPCA neste ano.
Para o economista-chefe do banco Fator, José Francisco Gonçalves, destacou-se no comunicado do Copom agora a citação da importância do processo de ajuste creditício, numa sinalização da criação da Taxa de Longo Prazo (TLP), que subsituirá a TJLP nos empréstimos do BNDES e, assim, reduzirá o peso dos juros subsidiados e ajudando a dar mais potência à política monetária.
"Essa queda-de-braço já foi ganha (criação da TLP)" afirmou ele, para quem o BC deve continuar reduzindo a Selic a 8 por cento até outubro. "Se não for 8 por cento, será menos", acrescentou ele.