O diretor de Política Monetário do BC (Banco Central), Gabriel Galípolo, disse nesta 2ª feira (19.ago.2024) que a autoridade monetária não tem “sentimento perverso” em torcer contra o crescimento econômico do Brasil. Declarou que é um “êxito” a possibilidade dos brasileiros ganharem mais e encontra mais empregos, mas que é preciso ter controle da inflação.
Ele participou do evento Conexão Empresarial, promovido pela VB Comunicação, em Belo Horizonte. Galípolo comentou sobre as revisões para cima nas estimativas dos analistas do mercado financeiro para o PIB (Produto Interno Bruto). Disse que os dados são positivos, mas que é dever do Banco Central zelar pelo controle do índice de preços.
“Entendemos como êxito a possibilidade que pessoas possam ganhar mais dinheiro, ter mais oportunidades e encontrar mais empregos. Ninguém tem nenhum tipo de sentimento perverso para torcer pelo contrário”, disse. “A função do Banco Central […] é tomar cuidado para que esses indicadores não se transformem em algum tipo de desarranjo que sinalize um crescimento da demanda numa velocidade muito descompassada do crescimento da oferta”, completou.
O diretor do BC afirmou que o crescimento superior da demanda poderia provocar pressões inflacionárias que poderiam corroer o próprio ganho de poder aquisitivo da população.
Galípolo disse que a função do Banco Central é ser o “chato da festa”: “Agora que a festa está ficando legal e está todo mundo gostando, você fala: ‘cuidado com a bebida. Abaixa o som um pouquinho”. O diretor disse que a autoridade monetária não quer “estragar a festa”, mas que tem essa função de controle.
GALÍPOLO E PT
Galípolo foi indicado para o cargo pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2023. É o principal cotado para assumir a presidência do BC em 2025, com o fim do mandato do atual comandante Roberto Campos Neto.
O PT (Partido dos Trabalhadores) criticou Galípolo quando ele disse que a alta da taxa básica, a Selic, não está 100% descartada. Ele voltou a dizer nesta 2ª feira (19.ago.2024) que um eventual aumento está “na mesa”.
“Toda a diretoria […] se colocou à disposição e disponível para elevar a taxa de juros sempre que for necessário. Sempre que for necessário [o Banco Central] vai se recorrer às ferramentas que são necessárias para cumprir a meta do Banco Central, os arcabouços institucional e legal que é perseguir e cumprir a meta[de inflação] de 3%”, disse Galípolo.
O diretor do BC classificou como “importante” a entrevista de Lula sobre a indicação do futuro presidente da autoridade monetária. O chefe do Poder Executivo afirmou na 5ª feira (15.ago.2024) que não cometerá “loucura” ao escolher o sucessor de Roberto Campos Neto.
“Eu também acho que foi importante a última entrevista do presidente Lula de dizer que, não só os diretores que estão aí [nos cargos], mas também que os futuros indicados também vão trabalhar dentro desta mesma normalidade do arcabouço institucional do Banco Central”, disse.
SELIC E INFLAÇÃO
A Selic está em 10,5% ao ano. Em 31 de julho de 2024, o Banco Central manteve o juro base no mesmo patamar pela 2ª reunião consecutiva. A autoridade monetária trabalha com a possibilidade de subir os juros em 2024 para controlar as expectativas dos agentes do mercado financeiro para a inflação. Nesta 2ª feira (19.ago.2024), o Boletim Focus mostrou que os analistas aumentaram para 4,22% a estimativa para o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), que mede a inflação oficial do país. Está cada vez mais próximo do teto permitido pela meta, que é de 3% e tem tolerância até 4,5%.
Galípolo disse que faz parte do grupo de diretores do Banco Central que considera o balanço de risco inflacionário assimétrico. Esse balanço é utilizado pelos integrantes da autoridade monetária para avaliar as pressões para cima e para baixo no índice de preços.
Ele declarou, porém, que não há nenhum tipo de sinalização para a alta da taxa Selic, apesar de não estar descartada.
“Afirmar que o balanço está assimétrico não é, de maneira nenhuma, qualquer tipo de guidance. O que é esse guidance? É uma orientação ou sinalização ao mercado do que o Banco Central pode dar sobre o que vai fazer na próxima reunião”, disse Galípolo. “Nós estamos hoje dependentes de dados e abertos para a próxima decisão. Vamos com todas as opções em cima da mesa para a próxima reunião”, completou.