Por Marcela Ayres
BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central melhorou nesta sexta-feira novamente sua projeção para o déficit em transações correntes do Brasil para este ano, a 15 bilhões de dólares, 10 bilhões de dólares a menos do esperado até então, diante da balança comercial mais forte, ajudada pela fraqueza da economia.
Se confirmado, será o melhor resultado desde 2007, quando houve superávit de 408 milhões de dólares. No ano passado, o rombo na conta corrente do país ficou em 58,882 bilhões de dólares.
Nem mesmo a decisão do Reino Unido de sair da União Europeia (UE), que pode causar impactos negativos na economia global, muda esse cenário para o BC. O chefe do departamento Econômico da autoridade monetária, Tulio Maciel, afirmou que, em termos de fundamentos, o impacto no curto prazo é "muito limitado".
Ele lembrou que o fluxo comercial do país com o Reino Unido responde por cerca de 1,5 por cento do total.
A decisão do referendo britânico tem gerado oscilações no preço dos ativos no mercado, mas o BC está preparado para esse tipo de situação, disse Maciel. Ele acrescentou ainda que o "regime de câmbio flutuante tem se mostrado exitoso nesta espécie de contexto".
Com o dólar mais alto frente ao real e com a atividade deprimida, as importações vêm caindo em ritmo acentuado no Brasil. Num reflexo dessa dinâmica, o BC passou a ver superávit comercial de 50 bilhões de dólares neste ano, ante estimativa de 40 bilhões de dólares.
O BC também ajustou as contas para o Investimento Direto no País (IDP) no ano, a 70 bilhões de dólares, acima dos 60 bilhões de dólares da última vez em que fez estimativas sobre as contas externas, em março.
A queda do déficit em transações externas é positiva pois implica menor necessidade de financiamento internacional para a economia, deixando o país menos exposto à volatilidade dos mercados.
MAIO
As transações correntes do Brasil fecharam maio com superávit de 1,2 bilhão de dólares, melhor desempenho para o mês desde 2004 (1,437 bilhão de dólares). Apesar disso, o déficit em 12 meses subiu a 2,87 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), contra 2,63 por cento no mês anterior.
Em pesquisa Reuters, a expectativa era de superávit maior, de 1,904 bilhão de dólares no mês. Por outro lado, o IDP alcançou 6,145 bilhões de dólares no mês passado, acima da projeção de analistas de 5,8 bilhões de dólares.
O resultado das contas externas foi puxado principalmente pela balança comercial, positiva em 6,251 bilhões de dólares, contra superávit de 2,466 bilhões de dólares no mesmo mês do ano passado.
O BC informou ainda que os gastos líquidos dos brasileiros em viagem ao exterior caíram 32 por cento na comparação anual, a 679 milhões de dólares em maio, enquanto as remessas de lucros e dividendos recuaram 12,3 por cento, a 1,706 bilhão de dólares.
Nos cinco primeiros meses do ano, o déficit em transações correntes somou 5,966 bilhões de dólares, bem abaixo dos 35,325 bilhões de dólares de igual período de 2015.
Para junho, a expectativa do BC é de déficit em transações correntes de 1 bilhão de dólares, em função de sazonalidade observada na balança comercial. Já o IDP deve ficar em 3,6 bilhões de dólares no período.