Por Bernardo Caram
BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central decidiu nesta quarta-feira fazer um novo corte de 0,50 ponto percentual na taxa Selic, a 11,25% ao ano, e afirmou, em comunicado sem surpresas para analistas de mercado, que sua diretoria antevê cortes na mesma intensidade nas próximas reuniões.
"Em se confirmando o cenário esperado, os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário", informou o Comitê de Política Monetária (Copom) em comunicado.
Esta foi a quinta redução consecutiva na taxa básica de juros depois que o BC iniciou seu ciclo de afrouxamento monetário com um corte de 0,50 ponto na Selic em agosto de 2023, mantendo ao longo do processo o discurso de que seguiria nesse ritmo de flexibilização nas reuniões à frente.
Com o novo corte de 0,50 ponto, decidido por unanimidade, o Banco Central leva a taxa básica de juros ao menor patamar desde março de 2022, quando estava em 10,75% ao ano.
O comunicado desta quarta trouxe poucas mudanças em relação ao da reunião de dezembro. Entre as alterações, o BC retirou a menção de que o ambiente externo "mostra-se menos adverso", ressaltando agora que o foco no cenário internacional é o eventual momento de corte de juros em economias avançadas.
“O ambiente externo segue volátil, marcado pelo debate sobre o início da flexibilização de política monetária nas principais economias e por sinais de queda dos núcleos de inflação, que ainda permanecem em níveis elevados em diversos países”, disse.
Pouco antes da decisão do Copom, o banco central dos EUA deixou sua taxa básica de juros inalterada, retirando uma referência a possíveis novos aumentos nos juros, mas afastando expectativas de um corte já em março.
A decisão do BC brasileiro desta quarta veio em linha com as expectativas de mercado, conforme pesquisa da Reuters que apontava para uma redução de 0,50 ponto na Selic.
Esta foi a primeira reunião do Copom com participação dos dois novos indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva à diretoria do BC, Paulo Picchetti (Assuntos Internacionais) e Rodrigo Teixeira (Administração). O grupo de nove componentes tem agora quatro indicados por Lula.
O BC também deixou inalterado seu balanço de riscos, com equilíbrio entre fatores que podem pressionar a inflação para cima ou para baixo.
NÃO EVENTO
Economistas enfatizaram o fato de o comunicado trazer poucas alterações em relação às avaliações feitas pelo BC em dezembro.
"Comunicado com pouquíssimas alterações, sendo neutro para a política monetária", disse João Savignon, head de pesquisa Macroeconômica da Kínitro Capital. "Seguimos com nossa projeção de que o Copom deve prosseguir com o seu plano de voo de cortar os juros ao ritmo de 0,50 ponto por reunião, desacelerando somente no último trimestre do ano."
Para a economista-chefe da B.Side Investimentos, Helena Veronese, o comunicado foi um “não evento” para o mercado.
"Foi a repetição do comunicado da última decisão, o que já era esperado por boa parte do mercado – afinal, de lá para cá não houve mudanças que justificassem qualquer alteração nas sinalizações", afirmou, vendo cortes de 0,50 ponto pelo menos nas reuniões de março e maio.
No comunicado, o Copom avaliou que a inflação cheia ao consumidor, "conforme esperado", manteve trajetória de desinflação, assim como as medidas de inflação subjacente, que excluem da conta itens mais voláteis e se aproximam da meta nas divulgações recentes.
O novo corte na Selic ocorre em meio a um arrefecimento da inflação doméstica, que fechou 2023 abaixo do teto da meta de 4,75%. As expectativas para os preços à frente, porém, seguem acima da meta de 3% para este e os próximos anos, com agentes de mercado projetando inflação de 3,81% em 2024 e 3,5% em 2025 e 2026, segundo o boletim Focus do BC.
Nesta quarta, o BC deixou inalteradas suas projeções para o comportamento dos preços em relação à reunião de dezembro. A autoridade monetária informou que, em seu cenário de referência, a estimativa para a inflação segue em 3,5% para 2024 e 3,2% para 2025.
Após o governo aprovar no ano passado medidas arrecadatórias -- com efeito de parte delas ainda incerto -- e sem desfecho para o impasse envolvendo a desoneração da folha de setores da economia, o BC reafirmou a importância da “firme persecução” das metas fiscais estabelecidas para ancorar expectativas e apoiar a condução da política monetária.
Apesar da redução dos ataques de membros do governo ao BC nos últimos meses, a equipe econômica mantém a defesa de uma aceleração no ritmo de corte de juros, com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reafirmando recentemente que há “gordura para queimar” na política monetária enquanto seu secretário de Política Econômica, Guilherme Mello, pediu juros em nível “mais neutro”.
No final de dezembro, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, disse ser importante entregar inflação na meta e levar os juros ao patamar “mais baixo possível”.