BRASÍLIA (Reuters) - O governo brasileiro está trabalhando em um plano de ajuste fiscal de cerca de 80 bilhões de reais que vai além de cortes de gastos, em uma tentativa de atingir a meta fiscal deste ano, disse uma fonte do governo à Reuters nesta terça-feira.
O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, disse na noite de segunda-feira que "não faremos um ajuste na casa de 80 bilhões (de reais) somente com cortes", segundo relato da fonte que estava no encontro e solicitou anonimato.
Seus comentários sugerem que o governo vai buscar uma combinação de cortes de gastos e aumentos de impostos para alcançar a meta de superávit primário equivalente a 1,2 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2015.
Procurado, o Ministério da Fazenda não comentou as declarações.
Levy e outros integrantes da cúpula da equipe econômica do governo da presidente Dilma Rousseff participaram de jantar oferecido pelo vice-presidente Michel Temer (PMDB), no Palácio do Jaburu, na segunda-feira.
Fontes peemedebistas ouvidas pela Reuters mais cedo nesta terça disseram que Levy fez uma longa explanação durante o encontro e defendeu o ajuste fiscal, em particular a aprovação de medidas provisórias que mudam regras de acesso a benefícios trabalhistas para gerar economia de 18 bilhões de reais por ano.
Duas das fontes do PMDB, principal aliado do PT no governo federal, afirmaram que Levy teria dito também que haverá um severo corte orçamentário, porque a previsão de receitas que está no projeto do Orçamento, que ainda precisa ser aprovado no Congresso, não se concretizará.
Também presente no jantar, o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, teria afirmado que as medidas adotadas até agora para garantir o equilíbrio fiscal "são insuficientes" e que uma nova rodada de ajustes está por vir, mas sem sinalizar quando e em quais áreas, segundo as mesmas fontes.
Em entrevista a jornalistas quando chegou ao Senado nesta manhã, o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), citou a cifra de 80 bilhões de reais e defendeu que o ajuste fiscal passe necessariamente por cortes no setor público. "O ajuste tem que cortar no setor público. A sociedade não entenderá se só a população mais pobre pagar a conta do ajuste", disse o senador.
(Por Alonso Soto e Jeferson Ribeiro, Reportagem adicional de Eduardo Simões, em São Paulo)