Por Rodrigo Viga Gaier e Patrícia Duarte
RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO (Reuters) - A contração da economia brasileira desacelerou nos três primeiros meses deste ano, com queda de 0,3 por cento sobre o período imediatamente anterior, bem menos que o esperado mas marcando o quinto trimestre seguido de contração, diante da menor retração em investimentos produtivos e maior consumo do governo.
Sobre o primeiro trimestre de 2015, o Produto Interno Bruto (PIB) caiu 5,4 por cento, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira. No quarto trimestre do ano passado, havia recuado 1,3 por cento sobre o trimestre anterior, em número ligeiramente revisado sobre queda de 1,4 por cento informada antes.
Pesquisa da Reuters apontava que a economia teria queda de 0,8 por cento entre janeiro e março na comparação com o trimestre anterior e de 6 por cento sobre o primeiro trimestre de 2015.
Os dados, no entanto, não chegaram a animar os especialistas, sobretudo diante do cenário de restrição fiscal, mantendo a avaliação de que a estabilização da atividade ainda deve demorar para acontecer, algo para o final do ano.
"Precisa haver correção nas projeções (por causa do resultado melhor que o esperado), mas a cara é muito parecida, não muda a percepção, com queda forte da economia no ano", afirmou o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco Gonçalves, que espera, por enquanto, queda de 4 por cento do PIB neste ano.
"Os investimentos continuaram caindo muito forte na comparação anual e a economia como um todo só deve parar de cair no final do ano, do quarto para o primeiro trimestre (de 2017)", acrescentou ele.
Segundo o IBGE, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), medida de investimento, recuou 2,7 por cento no trimestre passado sobre o período imediatamente anterior, quando a queda foi de 4,8 por cento. Sobre o primeiro trimestre de 2015, a retração foi de 17,5 por cento.
Apesar de a queda neste indicador ter desacelerado, foi a maior entre os demais no trimestre passado. Em seguida, veio o consumo das famílias, com queda de 1,7 por cento na comparação com outubro a dezembro passado e de 6,3 por cento sobre um ano antes, em meio ao desemprego elevado e renda em queda.
A indústria, ainda segundo o IBGE, mostrou contração de 1,2 por cento no trimestre, sobre o quarto, e de 7,3 por cento sobre um ano antes.
Apenas o consumo do governo mostrou expansão no trimestre passado, de 1,1 por cento quando comparado com o período anterior e maior taxa desde o quarto trimestre de 2013 (+1,1 por cento), mas marcou queda de 1,4 por cento sobre o primeiro trimestre de 2015. No quarto trimestre de 2015, havia recuado 2,9 por cento na margem.
"A queda do PIB no primeiro trimestre foi muito menor do que se esperava, mas apenas por causa do salto nos gastos do governo. Com a política fiscal definida para apertar durante a segunda metade do ano, este movimento para a economia vai embora", afirmou em nota o economista-chefe da consultoria Capital Economics, Neil Shearing.
Com as contas públicas no vermelho, o governo interino de Michel Temer se prepara para fortes medidas de austeridade fiscal, já tendo anunciado a proposta de limitar o crescimento dos gastos públicos, ação que precisa do aval do Congresso.
Pesquisa Focus do Banco Central, que ouve semanalmente uma centena de economistas, mostra projeção de contração do PIB de 3,81 por cento neste ano, com leve recuperação em 2017, com crescimento de 0,55 por cento.
O setor externo, informou o IBGE, também teve uma contribuição positva no resultado do PIB, com as exportações crescendo 6,5 por cento no trimestre passado sobre o período imediatamente anterior, sobretudo diante da alta do dólar sobre o real.
(Por Rodrigo Viga Gaier e Patrícia Duarte)