BRASÍLIA (Reuters) - O Brasil fechou 2014 com déficit recorde em transações correntes, a 90,948 bilhões de dólares, abatido sobretudo pelo mau desempenho da balança comercial e no segundo ano consecutivo sem que o rombo fosse coberto pelos investimentos produtivos vindos de fora.
Só em dezembro, o déficit em conta corrente somou 10,317 bilhões de dólares, informou o Banco Central nesta sexta-feira, pior do que o esperado por economistas consultados pela Reuters, com previsão de saldo negativo de 9,7 bilhões de dólares no mês passado.
O resultado negativo do ano passado foi equivalente a 4,17 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), o maior desde 2001 (4,19 por cento), segundo a série histórica do BC iniciada em 1947.
O rombo histórico na conta corrente do país --que abrangem a importação e a exportação de bens e serviços e as transações unilaterais do Brasil com o exterior-- veio sobretudo do déficit de 3,930 bilhões de dólares da balança comercial, pior desempenho desde 1998 afetado pela baixa nos preços das commodities e cenário externo menos favorável.
Também pesou negativamente o aumento dos gastos com aluguel de equipamentos no exterior, como plataformas de petróleo, cuja despesa líquida somou 22,651 bilhões de dólares em 2014, ante 19,060 bilhões de dólares em 2013.
O BC informou ainda que as remessas de lucros e dividendos ficaram praticamente estáveis, atingindo 26,523 bilhões de dólares no ano passado, frente a 26,045 bilhões de dólares no ano anterior.
Já os gastos líquidos de brasileiros no exterior com viagens ficaram em 18,695 bilhões de dólares, um pouco acima da despesa de 18,283 bilhões de dólares em 2013.
No ano passado, os Investimentos Estrangeiros Diretos (IED) no país somaram 62,495 bilhões de dólares, insuficientes para cobrir o déficit da conta corrente e marcando o terceiro ano seguido de queda, ainda que pequena. Em 2013, eles haviam ficado em 63,996 bilhões de dólares.
Só em dezembro, o IED somou 6,650 bilhões de dólares, praticamente em linha com o previsto por analistas consultados pela Reuters, cuja mediana era de 6,5 bilhões de dólares.
Para este ano, a tendência é de mais um ano de dificuldade para as contas externas do país mesmo considerando a recente valorização do dólar em relação ao real, que pode ajudar nas exportações.
"A tendência para 2015 é que a balança comercial melhore. A primeira razão é a taxa de câmbio, depois a perspectiva de maior volume de comércio internacional e, na parte de petróleo, a expectativa de que tenhamos saldo comercial melhor (na conta petróleo)", afirmou o chefe do departamento Econômico do BC, Tulio Maciel.
A estimativa do BC é de rombo de 83,5 bilhões de dólares em 2015 nas transações correntes do país.
(Por Luciana Otoni)