BRASÍLIA (Reuters) - O setor público brasileiro registrou déficit primário de 7,318 bilhões de reais em setembro, informou o Banco Central nesta quinta-feira, desempenho melhor que o projetado pelo mercado e ajudado por menor pagamento com benefícios previdenciários no mês passado.
Em pesquisa Reuters, analistas estimavam déficit primário de 20 bilhões de reais para o mês passado.
O saldo negativo foi puxado principalmente pelo governo central (governo federal, INSS e BC), com resultado negativo de 6,840 bilhões de reais no mês, diante do não pagamento do adiantamento de 13º salário a aposentados. O desembolso ficará para outubro, enquanto no ano passado foi feito em setembro.
Enquanto isso, Estados e municípios registraram superávit primário de 415 milhões de reais no mês, ao passo que empresas estatais tiveram déficit de 894 milhões de reais.
Em 12 meses, o déficit primário em 12 meses do setor público melhorou a 0,45 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), contra patamar revisado pelo BC de 0,77 por cento em agosto na mesma base de comparação.
Para o ano, o governo prevê deterioração nesse índice, após projetar novo rombo primário mínimo de 48,9 bilhões de reais, equivalente a 0,85 por cento do PIB.
A equipe econômica deixou em aberto a possibilidade de amargar déficit ainda maior caso o governo não consiga levantar recursos com leilão de hidrelétricas e tenha que pagar as chamadas "pedaladas fiscais", com possibilidade de o déficit primário do setor público chegar a 110 bilhões de reais neste ano.
A perspectiva para a meta de resultado primário foi piorada pela segunda vez em três meses, após o governo apontar em julho que perseguiria superávit primário --economia feita para pagamento de juros-- equivalente a 0,15 por cento do PIB em 2015, sobre percentual de 1,1 por cento anteriormente.
A contínua deterioração fiscal é fruto de uma série de fatores. Ao mesmo tempo em que a recessão econômica prejudica a arrecadação tributária, a crise política vem emperrando a votação de projetos importantes no âmbito do ajuste fiscal, dificultando a obtenção de recursos extraordinários.
Com a confiança dos agentes econômicos abalada especialmente após o país perder o selo de bom pagador pela agência de classificação de risco Standard & Poor's, em setembro, a volatilidade do mercado tem aumentado, com o avanço do dólar frente ao real.
Cada vez que a moeda norte-americana sobre, cresce também o gasto do BC com o programa de swap cambial. Em setembro, a perda foi de 38,599 bilhões de reais, com reflexo sobre o aumento da dívida bruta, que alcançou 66,0 por cento sobre o PIB no mês, praticamente em linha com a projeção do BC de que ficaria em 66,1 por cento.
Segundo dados preliminares divulgados pelo BC nesta quinta-feira, em outubro até o dia 23 houve ganho com os swaps de 11,405 bilhões de reais.
(Por Marcela Ayres)