Por Camila Moreira
SÃO PAULO (Reuters) - O Brasil voltou a superar 12 milhões de desempregados no trimestre até fevereiro e a taxa de desemprego chegou a 11,6% no período, em um cenário de aumento das demissões e procura por trabalho, que deve ser afetado nos próximos meses pelas medidas de contenção do coronavírus.
Os dados da Pnad Contínua que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou nesta terça-feira mostram alta da taxa de desemprego ante a leitura de 11,2% no trimestre até novembro. No mesmo período de 2019 a taxa era de 12,4%.
"Não tínhamos visto essa reversão em janeiro, no entanto, ela veio agora no mês de fevereiro, provocada por uma queda na quantidade de pessoas ocupadas e um aumento na procura por trabalho”, disse em nota a analista da pesquisa, Adriana Beringuy.
Nos três meses até janeiro a taxa de desemprego havia ficado em 11,2%. O resultado de fevereiro igualou a mediana das previsões em pesquisa da Reuters.
O mercado de trabalho brasileiro iniciou 2020 em condições melhores do que em anos anteriores, mas pode sofrer novo revés depois de a pandemia do coronavírus ter levado ao fechamento de lojas e comércios.
"Ante a expectativa de contração do PIB, espera-se um aumento da taxa de desemprego para pelo menos 15%, sendo que os riscos estão claramente para cima", disse o estrategista-chefe do modalmais, Felipe Sichel, em nota.
Os impactos sobre a economia do coronavírus ainda são incertos, dado que a necessidade de isolamento em muitos locais ainda permanece.
Entre dezembro e fevereiro, o número de desempregados no país era de 12,343 milhões, alta de 4,0% sobre o período de setembro a novembro e queda de 5,4% sobre o ano anterior.
De acordo com o IBGE, o aumento ante o trimestre imediatamente anterior veio dos setores de construção (-4,4%), administração pública (-2,3%) e serviços domésticos (-2,4%), diferentemente de outros anos quanto tradicionalmente o comércio costuma demitir os contratados para o Natal.
Por outro lado, o total de pessoas ocupadas foi a 93,710 milhões, contra 94,416 milhões no trimestre imediatamente anterior e 91,880 milhões em 2019.
Nos três meses até fevereiro, os trabalhadores com carteira assinada atingiram 33,624 milhões, contra 33,420 milhões no trimestre até novembro.
Já os empregados sem carteira no setor privado somavam 11,644 milhões, sobre 11,812 milhões no período anterior.
A taxa de informalidade, por sua vez, caiu de 41,1% no trimestre de setembro a novembro para 40,6% no trimestre encerrado em fevereiro, mais ainda representava um total de 38 milhões de informais --trabalhadores sem carteira, trabalhadores domésticos sem carteira, empregadores sem CNPJ, os conta própria sem CNPJ e trabalhadores familiares auxiliares.
“A gente ainda vive sob a influência do mês de dezembro, em que tivemos um desempenho muito bom das contratações com carteira trabalho. Muitas pessoas foram contratadas via carteira de trabalho no comércio, o que deu um pouco mais de consistência aos dados de formalidade", explicou Adriana.
O rendimento médio do trabalhador chegou a 2.375 reais nos três meses até fevereiro, de 2.373 reais até novembro.
“À medida que se tem um contingente menor de trabalhadores na informalidade, permanecem no mercado pessoas em atividades mais formalizadas e com melhores remunerações, em setores como a indústria e alguns segmentos do comércio", disse Adriana.