Por Marcela Ayres
BRASÍLIA (Reuters) - Com maior arrecadação federal e boa performance de Estados e municípios, o Brasil registrou superávit primário recorde de 46,940 bilhões de reais em janeiro, um bom começo de ano e no caminho para cumprir a meta fiscal, apesar de a dívida pública ter subido no período.
O resultado primário é o melhor mensal já registrado na série histórica do Banco Central iniciada em 2001. Em pesquisa Reuters, a expectativa para janeiro era de que a economia feita para pagamento de juros da dívida pública ficaria em 29,125 bilhões de reais.
O dado acima do esperado veio principalmente pelo superávit primário de 36,530 bilhões de reais do governo central (governo federal, BC e Previdência). Na véspera, o Tesouro já havia apontado que o forte desempenho teve ajuda da arrecadação, que vem respondendo à retomada da economia, e receitas extraordinárias com o Refis, programa de renegociação tributária.
Em 12 meses, o déficit primário do setor público consolidado foi a 100,355 bilhões de reais, equivalente a 1,53 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), melhor que a meta do ano, de rombo de 161,3 bilhões de reais.
Os governos regionais também registraram superávit expressivo em janeiro, de 10,536 bilhões de reais, sendo 8,538 bilhões de reais de Estados e 1,998 bilhão de reais de municípios. Já as empresas estatais tiveram déficit primário de 126 milhões de reais.
O BC informou ainda que o resultado nominal --receitas menos despesas, incluindo pagamento de juros-- veio positivo em 18,626 bilhões de reais em janeiro, o que não ocorria desde o mesmo mês do ano passado (+299,39 milhões de reais).
Apesar do primário recorde, em janeiro a dívida líquida do país subiu a 51,8 por cento do PIB, contra 51,6 por cento em dezembro. Segundo o chefe do departamento de Estatísticas do BC, Fernando Rocha, o principal fator foi o efeito do ajuste cambial, já que no período houve queda de cerca de 4 por cento do dólar sobre o real. Na prática, isso diminuiu o valor em reais das reservas internacionais do país.
Já dívida bruta, que não incorpora as reservas, avançou a 74,5 por cento do PIB, contra patamar de 74 por cento no último mês do ano passado.
Segundo Rocha, nesse caso o fator determinante foi a emissão líquida de 24,581 bilhões de reais, recursos que foram tanto para o mercado quanto para o Banco Central. No mês, acrescentou ele, houve a injeção de 88,043 bilhões de reais em compromissadas para enxugar a liquidez do mercado.
Para fevereiro, o BC prevê que a trajetória de alta seguirá tanto para a dívida líquida quanto para a bruta, a 52,1 e 74,9 por cento do PIB, respectivamente.