Por Fabrício de Castro e Isabel Versiani
SÃO PAULO/BRASÍLIA (Reuters) - Em meio às críticas do governo Lula sobre o atual patamar da taxa básica de juros Selic, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta quinta-feira durante coletiva de imprensa que a autarquia é um “órgão técnico” e que, por isso, “não deveria se envolver em termos políticos”.
Segundo ele, o BC tem hoje um bom relacionamento com o Ministério da Fazenda. Campos Neto, em coletiva de imprensa sobre o Relatório de Inflação, afirmou ainda que tem “convicção” de que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, está “bem-intencionado”.
Os comentários de Campos Neto surgem na esteira de atritos entre o governo e o BC neste início do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. O presidente do BC vem sendo criticado por membros do governo e pelo próprio Lula por manter a Selic em 13,75% ao ano, sem passar indicações claras de quando o ciclo de cortes poderá começar.
Aos jornalistas, Campos Neto afirmou que o BC está fazendo um trabalho técnico na condução da política monetária. De acordo com o presidente da autarquia, é preciso comunicar à sociedade que o trabalho do BC com os juros tem um custo de curto prazo.
“Nosso processo aqui não tem nenhum componente político. É estritamente técnico”, afirmou Campos Neto, ressaltando que o custo para combater a inflação é alto e é sentido no curto prazo. “Nosso trabalho é explicar por que existe autonomia e por que isso é importante para a sociedade.”
Ao mesmo tempo, ele defendeu que a autonomia do BC é importante justamente para a tomada de decisões sobre a Selic e o combate à inflação, sem que se incorra em custo maior no longo prazo.
Questionado sobre os principais documentos de política monetária do BC –o comunicado e a ata do Copom– Campos Neto novamente destacou o caráter técnico.
“Acho que a ata, de certa forma, sempre tem dimensão técnica, de tentar explicar o que foi feito tecnicamente. E ela incorpora alguma correção, alguma explicação que precisava ser dada em relação às incertezas desde o comunicado”, afirmou.
META DE INFLAÇÃO
Questionado sobre a possibilidade de mudança nas metas de inflação, Campos Neto pontuou que o governo possui dois votos no Conselho Monetário Nacional (CMN), órgão responsável pelos parâmetros, enquanto o BC possui apenas um voto.
"A gente não determina a própria meta de inflação; quem determina é o CMN", afirmou, lembrando que o BC tem apenas a autonomia operacional para perseguir a meta autorizada pelo governo, e não o poder de determiná-la.
Em fevereiro, a reunião do CMN foi precedida por especulações, em Brasília, de que o conselho poderia alterar a meta de inflação estabelecida para 2023, de 3,25%, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.