Por Bernardo Caram
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta quinta-feira que a sinalização feita pela autarquia de novos cortes de 0,50 ponto percentual na Selic nas "próximas reuniões" abrange os dois encontros do Comitê de Política Monetária (Copom) à frente, em janeiro e março.
Em coletiva de imprensa, Campos Neto enfatizou que no momento em que o BC chegar ao fim do ciclo de corte de juros, a taxa básica ainda se encontrará em campo restritivo.
"A gente entende que a taxa terminal vai ser tal, a gente não sabe qual é, não indica qual é, mas vai ser tal que mantenha condições restritivas", afirmou, antes de ser acompanhado pelo diretor de Política Monetária do BC, Diogo Guillen, para quem não há ganho em indicar a extensão do ciclo.
Na entrevista, Campos Neto foi questionado se a comunicação do BC não estaria engessada por indicar cortes de 0,50 ponto percentual da Selic sem deixar muita margem para aceleração do processo.
"Neste momento, a gente entende que a linguagem não é amarrada, a gente entende que sinalizar que o ritmo é apropriado e usar a expressão ‘próximas reuniões’ significa próximas duas reuniões e é compatível com as incertezas", disse.
Ao tratar da política monetária, Campos Neto pontuou que o colegiado discutiu "bastante" como os núcleos de inflação no Brasil estão melhorando no curto prazo, mas ponderou que a inflação cheia ainda está longe da meta.
Ao mencionar que houve pouca mudança nos fatores condicionantes considerados pelo BC ao definir o ritmo do ciclo monetário, Campos Neto disse que a inflação corrente tem demonstrado melhora, incluindo no setor de serviços, enquanto o hiato do produto ficou estável e as expectativas seguem desancoradas.
"Olhando o conjunto, a gente entende que o ritmo de queda (da Selic) é apropriado", afirmou.
FISCAL
Na entrevista, ele voltou a indicar que eventual piora da área fiscal do governo não pressupõe uma reação mecânica da política monetária, enfatizando "grande esforço" do Ministério da Fazenda em melhorar as condições das contas públicas.
Segundo ele, se o fiscal "for um pouquinho pior" que o esperado, mas o governo seguir realizando reformas econômicas, com o entendimento do mercado, esta piora não seria "tão relevante" para as avaliações do BC.
O governo Lula persegue a meta de resultado primário zero em 2024, mas economistas afirmam que o objetivo é difícil de ser alcançado, porque depende da geração de mais receitas. Campos Neto, por sua vez, tem defendido que o governo deve seguir perseguindo a meta. Segundo ele, mudar o objetivo teria um custo de credibilidade para o governo.
O presidente do BC ainda elogiou a solução dada ao passivo de precatórios após o Supremo Tribunal Federal (STF) declarar inconstitucional o teto para pagamento anual desses valores, autorizando a quitação de 93 bilhões de reais sem gerar efeito na regra de despesas do governo.
JUROS FUTUROS E CÂMBIO
Campos Neto também abordou na entrevista alguns dos movimentos mais recentes dos ativos no Brasil. Segundo ele, as taxas dos contratos futuros de juros com prazos mais longos "caíram bastante", o que é relevante para o investimento produtivo no Brasil.
Ele pontuou que as taxas curtas estão mais ligadas ao consumo, enquanto as longas estão relacionadas aos investimentos.
"Se a gente olhar os juros de (janeiro de) 2027, o fechamento de ontem (quarta-feira), foi 9,68%. Ou seja, os juros longos já caíram bastante", afirmou Campos Neto. "A última vez que este mesmo juro estava em 9,68%, se não me engano a Selic estava entre 8,50% e 9%. Então, este juro, que é relevante para o investimento, demonstrou uma queda compatível com um tempo atrás, quando a Selic estava bem mais baixa que está hoje."
Ao avaliar o mercado de câmbio no Brasil, ele chamou atenção para o fato de que a volatilidade tem sido baixa e disse que o real se mostra uma moeda "bastante resiliente".
"O Brasil é sério candidato a receber fluxo de investimentos mais perene", acrescentou, lembrando que, se isso de fato se materializar, o câmbio tende a ser beneficiado.
Campos Neto disse ainda que será apresentada uma solução para o problema dos juros elevados do cartão de crédito, após o Congresso estabelecer um prazo para regulação do tema. Segundo ele, os detalhes serão conhecidos no fim do dia desta quinta, após reunião do Conselho Monetário Nacional.
(Reportagem adicional de Fabrício de Castro)