O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, destacou nesta terça-feira, 24, os efeitos positivos de reformas estruturais ao apontar indícios de que o potencial de crescimento do Brasil melhorou "um pouco". Mesmo assim, a autoridade monetária vê a atividade crescendo acima da capacidade, o chamado hiato positivo.
Durante palestra em conferência do banco Safra, Campos Neto afirmou que o Brasil foi um dos poucos países que fizeram reformas estruturais durante a pandemia, o que pode ter resultado em um maior PIB potencial. "A gente fez reformas na pandemia, tem essa parte do copo mais cheio", comentou.
Ele voltou a dizer que o desempenho do PIB tem superado as previsões. Os economistas, pontuou, também erraram nas previsões sobre o mercado de trabalho, sendo que o desemprego, diferente do esperado, não voltou a subir. Apesar disso, Campos Neto ponderou que ganhos significativos de produtividade só aconteceram no agronegócio. "Os demais setores estão no negativo."
O banqueiro central tratou também, durante a sua participação no evento do Safra, da transição energética, que, segundo ele, não resultará em ganhos de produtividade em todos os países e trará um custo grande no curto prazo.
Ainda em sua abordagem sobre a conjuntura internacional, o presidente do BC classificou o aumento da dívida e os juros altos como "rachaduras" na economia global. A dificuldade de rolagem da dívida americana, observou, tem impactos nas economias emergentes. Estados Unidos, Europa e Japão, lembrou, respondem por dois terços da dívida mundial, o que explica, em parte, por que a política fiscal foi o tema mais falado na última reunião de banqueiros centrais, em Jackson Hole.
"Poucos países têm produzido resultados fiscais primários suficientes para pagar as despesas da pandemia", assinalou Campos Neto. Em paralelo, emendou, a China mudou o modelo de crescimento, baseado agora em expansão de oferta e exportações, levando a uma reação do resto do mundo, com tarifas contra a entrada de produtos chineses.
"Ocorre muita restrição no mundo em relação a produtos exportados pela China", declarou o presidente do BC, ao avaliar que o maior protecionismo pode ter efeito elevado sobre o crescimento da China, principal destino das exportações brasileiras. A China, pontuou Campos Neto, mudou a estratégia de crescimento, assim como em 2001, porém escolhendo setores estratégicos.