A autonomia operacional do Banco Central ainda está em fase de amadurecimento e, conforme o tempo passa, o mercado deve começar a mapear as posições individuais de cada membro do Comitê de Política Monetária (Copom), afirmou nesta terça-feira o presidente do BC, Roberto Campos Neto.
"À medida que você tenha um processo mais longo, onde você tem diretores entrando e saindo de governos diferentes, eu acho que o mercado vai começar a mapear muito o que cada diretor está pensando, e faz parte do processo em vários outros países", ele disse, em um evento do BTG Pactual (BVMF:BPAC11), em São Paulo.
Campos Neto recordou a decisão dividida do Copom em maio, quando os quatro diretores nomeados pelo governo do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva - crítico do nível dos juros - votaram por um corte de 0,5 ponto porcentual da Selic. Eles foram vencidos pelos cinco membros do Copom indicados em governos anteriores, que defenderam uma baixa menor, de 0,25 ponto.
"A gente passou por uma situação onde, apesar de a decisão ter sido técnica, teve uma interpretação que todos entenderam que, no final, foi pior para todo mundo", afirmou o presidente do BC, repetindo que, desde então, o comitê tem buscado decisões "mais coesas" e uma comunicação mais clara para mostrar que o racha não foi político.
Segundo o presidente do BC, divergências entre membros do Copom são comuns e acabaram exacerbadas por um "momento de críticas" à autoridade monetária. "Mas acho que, à medida que isso passa e a gente vai amadurecendo, esse processo tende a melhorar", afirmou, reforçando que a autoridade monetária tem de ficar à margem da polarização da sociedade e das divergências de governos.
Campos Neto disse que, mesmo antes de a autonomia do BC ter sido aprovada, teve em diversos momentos divergências com diretores da autarquia que haviam sido indicados por ele próprio. E defendeu que é necessário conviver com essas diferenças.