César Muñoz Acebes.
Washington, 6 mai (EFE).- O presidente do Federal Reserve dos
Estados Unidos, Ben Bernanke, discursou hoje no debate sobre a
reforma financeira em defesa da independência da entidade frente a
uma proposta que a submeteria a auditorias do Congresso.
A ideia, que deve ser votada provavelmente nesta quinta-feira no
Senado, faz parte de um conjunto de emendas à reforma financeira,
algumas das quais causaram alarme tanto no Federal Reserve (Fed)
como na Casa Branca.
Bernanke enviou hoje uma carta ao presidente do Comitê dos Bancos
do Senado, o democrata Christopher Dodd, na qual criticou a cláusula
que sujeitaria as decisões de política monetária do Federal Reserve
a auditorias do Congresso.
Essa medida "ameaçaria seriamente a independência da política
monetária, aumentaria o medo da inflação e as taxas de juros do
mercado e danificaria a estabilidade econômica e a criação de
emprego", disse o chefe do Fed em sua carta.
Essa disposição, similar a uma aprovada pela câmara baixa, é
patrocinada pelo senador independente Bernie Sanders, que quer que o
Fed preste contas sobre para quem emprestou seu dinheiro durante a
crise.
"Se vários bilhões de dólares do dinheiro dos contribuintes foram
emprestados a grandes instituições financeiras, temos o direito de
saber quem os recebeu", disse Sanders.
A Casa Branca e o Federal Reserve pressionam os senadores para
que não aceitem a emenda, que, na sua opinião, poria em dúvida a
independência do banco central americano.
São necessários 60 votos na câmara alta para a sua aprovação.
Caso seja aprovada, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama,
terá que decidir se veta a reforma só por causa dessa cláusula.
E ela não é a única a assustar o Governo no debate levado a cabo
no Senado.
Em comunicado, Obama pediu hoje aos legisladores que rejeitem a
proposta republicana que, na sua opinião, debilitaria a proteção ao
consumidor no terreno financeiro e seria "pior que o status quo".
"Não permitirei que emendas como esta, escritas pelos
representantes de Wall Street, sejam apresentadas com a aparência de
ser uma reforma", disse o presidente.
A proposta republicana rejeita a criação de uma nova agência de
proteção ao consumidor dentro do Federal Reserve, uma das medidas
preferidas de Obama.
O secretário do Tesouro, Timothy Geithner, também entrou na
disputa hoje durante um discurso no Congresso perante a Comissão de
Investigação da Crise Financeira.
"Alguns argumentam que para criar estabilidade deveríamos
simplesmente separar os bancos e o risco, mas isso é exatamente o
que causou esta crise, em grande medida", advertiu Geithner.
O senador democrata Blanche Lincoln, presidente do Comitê de
Agricultura, propôs obrigar os bancos a se separar de suas operações
com derivados, que seriam levadas a cabo por filiais.
"Não podemos aumentar a segurança da economia tomando medidas que
são principais no negócio dos bancos, funções necessárias para
captar capital para as empresas e para ajudar às empresas a tramitar
o risco, e movimentá-las fora dos bancos e fora do alcance de uma
regulamentação enérgica", assinalou Geithner.
Sua proposta é pôr sob regulação os mercados de derivados, que
seriam sujeitos a requisitos de transparência e obrigados a manter
reservas de capital, como os bancos tradicionais.
Henry Paulson, o antecessor de Geithner no Tesouro, também
interveio perante a Comissão a quem pediu mais controle público dos
mercados de derivados e de letras de câmbio, além do processo de
titulação.
Ao mesmo tempo, alertou do perigo de que a reforma vá longe
demais e que gere "um sistema de bancos comerciais consolidados e
monolíticos", uma advertência que cai no meio de uma cacofonia de
propostas para prevenir uma nova crise. EFE