Por Dan Burns
(Reuters) - A percepção de muitos de que os sinais de aperto dos bancos centrais do Canadá e da Austrália levariam as maiores autoridades monetárias do mundo a acelerar seus próprios cronogramas de aumento de juros se chocou com um muro na quarta-feira, quando o Federal Reserve e o Banco Central Europeu (BCE) mandaram pisar nos freios.
Os juros futuros e os mercados de ações dos dois lados do Atlântico reprecificaram um aumento antecipado das taxas de juros por parte do banco central dos Estados Unidos e do BCE ao longo do último mês, devido a um ambiente de inflação que não está dando ouvidos ao mantra "transitório" das autoridades.
As movimentações começaram a se intensificar uma semana atrás, quando primeiro o Banco do Canadá surpreendeu os mercados com sinais "hawkish" (inclinado a aperto monetário) sobre sua perspectiva, e nesta semana o banco central da Austrália insinuou que aumentos das taxas de juros estão a caminho, embora este último tenha adotado uma abordagem mais cautelosa quanto ao momento dos aumentos.
Só no caso do Fed, a precificação havia avançado desde 1º de outubro, indo das expectativas firmes de que o banco só elevaria os juros do nível quase zero em que esteve durante quase 19 meses somente uma vez até o final de 2022 para 50% de chance de um aumento de 0,75 ponto percentual até o final do ano na terça-feira.
Já basta, sinalizou a presidente do BCE, Christine Lagarde, de maneira clara na quarta-feira, horas antes de seu colega do Fed, Jerome Powell, revelar o primeiro passo do banco rumo a uma abordagem pós-pandemia.
"Em nossa diretriz futura para os juros, articulamos claramente as três condições que precisam ser satisfeitas antes de as taxas começarem a subir", disse ela em um evento em Lisboa.
"Apesar da atual disparada da inflação, a perspectiva de inflação no médio prazo continua contida, e portanto é muito improvável que estas três condições sejam satisfeitas no próximo ano".
Os investidores, antes apáticos diante da recusa suave anterior de Lagarde na questão, ouviram, e a precificação do próximo movimento do BCE, um aumento de 10 pontos-base, foi adiado de outubro para dezembro de 2022.
Por sua vez, Powell reforçou o que autoridades do Fed insistem em dizer que é uma distinção clara entre a esperada redução das compras mensais de títulos de 120 bilhões de dólares do Fed para zero até meados de 2022 --anunciada como esperado na quarta-feira-- e aumentos futuros dos juros.
As declarações dele em entrevista à imprensa sinalizaram que o Fed continuará paciente --e esperará dados melhores de emprego-- antes de aumentar os juros.
"Idealmente, veremos mais evolução do mercado de trabalho em um contexto em que não haja outro salto de Covid. Ainda não achamos que seja hora de elevar os juros. Ainda há um caminho a percorrer para atingir o pleno emprego", disse Powell, acrescentando acreditar que essa meta talvez possa ser alcançada no final do próximo ano.
(Reportagem adicional de Howard Schneider em Washington, Balazs Koranyi em Frankfurt e William Schomberg em Londres)