BRASÍLIA (Reuters) - Depois de uma reunião com o vice-presidente Michel Temer, o presidente da Confederação Nacional da Indústria, Robson de Andrade, afirmou que a possibilidade do peemedebista assumir a presidência da República tem trazido um ambiente de “credibilidade” e “confiança” na indústria e defendeu temas que a indústria considera necessárias para voltar a crescer.
“A gente sente no momento que essa discussão que se criou em torno de um novo governo já está trazendo esse ambiente de credibilidade , de confiança, de esperança. Isso já é muito importante para que os investidores comecem a tirar seus projetos da gaveta e colocar em cima da mesa”, disse Andrade.
O presidente da CNI teve um encontro com Temer junto com representantes de outras sete confederações setoriais. Durante a conversa, cada uma delas apresentou pedidos ao vice-presidente. A CNI entregou um documento com 38 medidas em oito áreas.
Entre elas, a defesa do projeto que permite a terceirização em todas as áreas, inclusive nas atividades-fim das empresas, e a mudança da legislação trabalhista para que acordos coletivos possam se sobrepor à CLT --pontos que, na terça-feira, os sindicalistas que estiveram com Temer apresentaram demanda contrária.
Questionado sobre essa posição, Andrade afirmou que “em um momento como esse todos precisam fazer sacrifícios, inclusive os trabalhadores”.
De acordo com Andrade, a indústria também cobrou medidas para estabilizar o dólar, mas negou que esteja pedindo controle da moeda norte-americana.
“Há medidas que o Banco Central pode tomar. Precisamos de previsibilidade no dólar”, disse.
João Martins, presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), afirmo a Temer que há uma “expectativa muito positiva” mas que as confederações “querem ver resultados" logo.
“Em 60 dias tem que mostrar que vai haver mudança grande, reduzir a máquina, mostrar que vai ter austeridade”, afirmou.
ORDEM PRIMEIRO
O gabinete da Vice-Presidência, no anexo do Palácio do Planalto, virou um centro de peregrinação nos últimos dias, em contraste com a Presidência da República. Deputados, senadores, representantes setoriais entram e saem do gabinete, em reuniões para trazer a Temer pedidos e sugestões.
Antes das confederações, Temer recebeu representantes da Frente Parlamentar do Agronegócio, que também vieram trazer pedidos, com quem concordou que é necessário pacificar o campo, uma das reivindicações do grupo.
"Ele terminou a reunião dizendo que na bandeira brasileira a ordem está na frente do progresso. Primeiro vem a ordem e depois vem o progresso", disse o deputado Marcos Montes (PSD-MG).
Presidente da Frente, o deputado chegou a dizer que iria propor a Temer uma proposta de emenda constitucional que autorizasse o Exército a agir para reprimir ações de movimentos sociais em invasões de propriedades, mas depois afirmou que não chegou a fazê-lo.
Alertado que seu pedido soaria como um sinal de volta da ditadura, retificou depois afirmando apenas que era necessário reprimir “movimentos ilegais, como o Movimento Sem Terra”.
No final da tarde, chegaram ainda para conversar com o vice-presidente o senador Romário (PSB-RJ) e o líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), entre outros.
(Reportagem de Lisandra Paraguassu; Edição de Alexandre Caverni)