A interrupção do movimento de apreciação do real e o aumento de incertezas gerados pelo recrudescimento da pandemia da covid-19 vão pressionar os preços da alimentação e do grupo industrial em 2021. Os itens com preços administrados também vão pesar na inflação. Com isso, ao fim do ano, o IPCA deverá acumular crescimento de 4,73%, acima da meta de inflação, de 3,75%. A projeção é da Confederação Nacional Indústria (CNI), que divulgou nesta segunda-feira (22) o primeiro Informe Conjuntural do ano.
Contudo, o indicador não deve ultrapassar o teto da meta, que é de 5,25% ao ano. "Apesar da aceleração dos preços no início do ano, o Banco Central respondeu de maneira forte, deixando claro que não medirá esforços para cumprir a meta", afirmou a CNI, que na estimativa de 4,73% de inflação considera as intervenções de política monetária conduzidas pelo Banco Central.
O aperto monetário elevará a taxa básica de juros a patamares pré-crise, apontou a entidade. Com isso, a expectativa é de que a Selic encerre 2021 em 4,25% ao ano, 2,25 pontos percentuais acima da taxa registrada em dezembro do ano passado.
Fator relevante para a pressão inflacionária, a taxa de câmbio real/dólar deve se manter em patamar depreciado em 2021, com pouca valorização frente ao ano passado. A CNI estima que esse indicador feche o ano em R$ 4,70/US$.
"A partir de junho, a redução de incertezas internas somada ao cenário global mais favorável, à medida que a vacinação avança, contribuirá para a valorização do real frente ao mesmo período de 2020. A redução de incertezas no cenário em relação às reformas e à consolidação fiscal é determinante para se esperar uma valorização mais forte e persistente", avaliou a CNI, para quem a taxa de câmbio real/dólar ficará em R$ 5,10/US$ na média de 2021.
Insumos e alimentação
A falta de insumos e matérias-primas estão entre os problemas que provocam pressão sobre os preços, apontou a CNI. A entidade observa que o aumento de custo de produção foi absorvido, em grande medida, pelas empresas durante o ano passado. Isso porque a inflação dos preços industriais para o consumidor medida pelo IPCA foi de 3,36% em 2020, enquanto que a inflação do produtor, acompanhada pelo Índice de Preços ao Produtor (IPP) da Indústria de Transformação, foi de 18,15%.
Para este ano, é esperado um aumento do repasse dos custos ao consumidor. Por isso, no acumulado em 2021, a variação nos preços do grupo industriais deve alcançar 5,37%.
O relatório pondera que a expectativa é de que os preços do grupo alimentos comecem a desacelerar entre março e abril, quando uma maior oferta de produtos se iniciar, na esteira da colheita das novas safras.
"Apesar do processo inflacionário em curso, considerando o arrefecimento nos preços de alimentos, que têm grande participação na cesta do IPCA, e que o Banco Central deverá decidir por novos aumentos dos juros no decorrer do ano de modo a ajustar as expectativas, não acreditamos que ocorra um descontrole dos preços que possa levar o IPCA a ultrapassar o teto da meta de inflação", disse a entidade.
Para esse ano, a CNI acredita que os preços administrados devem avançar e ter a maior contribuição sobre o IPCA. Isso devido ao adiamento de reajustes de tarifas como transporte público, água e esgoto e preços de planos de saúde durante o ano passado. "Esse será o grupo que terá a maior contribuição sobre o IPCA este ano", afirmou a CNI.
A entidade pontuou ser possível que o governo busque uma nova rodada de renegociações para o adiamento de reajustes contratuais e de tarifas públicas, porém, com limitações. "Essa medida exigiria ainda mais resiliência do empresário e da capacidade fiscal do Estado, em um momento em que ambos se encontram fragilizados. Assim, o reajuste desses preços deve acontecer, ainda que parcialmente, este ano", afirmou a CNI, destacando o peso dos combustíveis entre os preços administrados.