O Bradesco (BVMF:BBDC4) registrou lucro líquido de R$ 4,716 bilhões no segundo trimestre do ano, crescimento de 4,4% em um ano e 7,8% acima da média das estimativas de casas consultadas pelo Estadão/Broadcast. A alavanca foi a queda da inadimplência observada em 12 meses, de 5,7% para 4,3%. Mais próximo da qualidade de crédito vista entre os pares, o banco pôde reduzir em 29,3% as provisões contra atrasos, para R$ 7,290 bilhões.
Confortável com a inadimplência, o banco sinalizou que a aceleração da carteira chegará às receitas no próximo semestre. Esse sinal, esperado pelo mercado há vários trimestres, impulsionou as ações, que fecharam com alta de 8,3% (ON) e de 7,59% (PN).
"Estamos chamando menos PDD (provisão para devedores duvidosos) porque temos um bom mix", disse o presidente do banco, Marcelo Noronha. "Hoje, a gente está trazendo 74%, 75% das nossas aprovações (em clientes com notas de AA a B, de maior qualidade). Isso requer mais tração comercial."
A queda na inadimplência abriu as portas para a retomada da carteira de crédito. O ritmo de crescimento passou de 1,2%, no primeiro trimestre do ano, para 5% neste segundo, levando o crescimento para mais perto das projeções fornecidas pelo Bradesco para 2024, de 7% a 11%. Houve expansão em todos os segmentos, mas foi mais visível em pessoas físicas e pequenas e médias empresas.
Noronha afirmou que o ganho de ritmo permitirá ao Bradesco voltar a expandir as margens com crédito no segundo semestre, após a contração de 7,5% na primeira metade do ano. "O crescimento do segundo trimestre (em crédito) se materializa (na margem) no terceiro trimestre", disse o executivo. A margem é a mais importante alavanca para que o banco retome os patamares históricos de rentabilidade, próximos dos 20%. Entre abril e junho, o retorno foi de 11,4%.
"Vemos o banco apontando para melhores tendências à frente, o que deveria dar suporte às nossas estimativas atuais e representar um potencial de alta para os números de 2025 e para o ROE (indicador de rentabilidade)", afirmou o analista Daniel Vaz, do Safra, em relatório enviado a clientes.
Pedro Leduc, do Itaú BBA, disse que os números indicam que o lucro do Bradesco deve continuar crescendo trimestralmente, chegando a cerca de R$ 18 bilhões no fim do ano. "O segundo trimestre indica que o Bradesco está no caminho certo para ampliar a atividade comercial e restaurar a rentabilidade."
Virada de chave
O trimestre mostrou um dos movimentos mais importantes do plano de reestruturação do Bradesco: a realocação de despesas entre diferentes linhas de negócio. A rede de agências do banco, por exemplo, perdeu cerca de 400 endereços no espaço de um ano. Ainda assim, a despesa operacional cresceu 10,6% no mesmo período, para R$ 14,466 bilhões.
Recursos que antes manteriam a estrutura têm sido aplicados em pontos como as contratações para a área de tecnologia, cruciais para acelerar outra das alavancas do plano, a transformação digital do Bradesco. "Nós conseguimos equilibrar os investimentos com a revisão da presença física", disse o CFO do banco, Cassiano Scarpelli.
Embora acima da inflação, o crescimento das despesas era previsto. No primeiro semestre, as despesas operacionais do Bradesco cresceram 7,6%, número que ficou dentro da margem de 5% a 9% de alta prevista pelo banco desde o começo do ano.