Por Fabrício de Castro
22 Mar (Reuters) - Os mercados de juros futuros, dólar e ações devem passar por ajustes importantes na quinta-feira no Brasil, segundo alguns profissionais, após o Banco Central ter mantido a Selic em 13,75% ao ano e ter sinalizado a possibilidade de persistir com taxas elevadas por mais tempo, para conduzir a inflação às metas.
Como o comunicado foi duro --ou "hawkish", pelo termo do mercado-- ao tratar dos desafios para o controle da inflação, a visão é de que o mercado de DIs refletirá isso, em especial na ponta curta.
"Primeiro, o mercado estava precificando um comunicado que pudesse trazer possível indicação de corte de juros, talvez em junho. Isso não existiu. O BC deu sinal de que pode até aumentar os juros", comentou Flavio Serrano, economista e sócio da BlueLine Asset Management.
Após as taxas dos contratos futuros de juros terem recuado nesta quarta-feira, antes do anúncio do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, a expectativa de Serrano é de que elas subam na quinta-feira, em especial entre os contratos mais curtos.
"As taxas mais curtas devem subir, e a curva tende a perder inclinação. Isso porque as taxas longas podem subir menos ou até cair", explicou. "Se as expectativas de inflação continuarem piorando, podemos ter eventualmente o ano de 2023 inteiro com o BC parado", alertou.
No mercado de câmbio, a expectativa é de um dólar mais fraco em relação ao real. Além de a decisão de juros do Federal Reserve, o banco central norte-americano, nesta quarta-feira ter aberto espaço para a baixa da moeda norte-americana ante diversas outras divisas, a perspectiva de uma Selic alta por mais tempo contribui para o fortalecimento do real.
"Pelo menos no curto prazo, a sinalização do Copom é boa para o real", afirma o diretor da consultoria Wagner Investimentos, José Faria Júnior. "A decisão desta quarta-feira tende a ser negativa para a bolsa e para o dólar. No caso dos juros, haverá um aumento nas taxas curtas", disse.
A reação do mercado, no entanto, é apenas uma das consequências da decisão. Faria Júnior lembra que o presidente do BC, Roberto Campos Neto, vem sendo pressionado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e por membros do PT para baixar a taxa básica de juros o quanto antes.
A presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann, é uma das maiores críticas de Campos Neto. Na noite desta quarta-feira, pouco depois do anúncio do Copom, ele usou o Twitter para criticar o presidente do BC.
"Roberto Campos, explica como empresários podem captar recursos com os maiores juros do mundo? Como investir se o dinheiro aplicado rende 8% reais? Você não entendeu seu compromisso com o Brasil?", disparou.
No comunicado da noite desta quarta-feira, no entanto, a diretoria do BC parece não ter aberto brechas claras para cortes de juros, considerando o avanço da inflação e o cenário global incerto.
"Não dá para saber o quanto o Roberto Campos vai ser detonado, porque o comunicado é muito duro, fala até em subir juros", afirmou Faria Júnior. "Mas para 2025, 2026, estão piorando as expectativas de inflação. Então, na quinta-feira o juro curto sobe, o dólar cai, e as bolsas caem."
Para o economista-chefe da Órama Investimentos, Alexandre Espírito Santo, e a analista de macroeconomia, Eduarda Schmidt, "mesmo com a pressão política que o BC vem sofrendo nos últimos meses, a atuação do Copom se manteve focada no balanço de riscos e na convergência das expectativas e ancoragem da inflação".
Em análise distribuída após o Copom, eles afirmam que o BC deverá aguardar a tramitação no Congresso do novo arcabouço fiscal para ter maior convicção em relação a cortes de juros.
(Edição de Alexandre Caverni)