O BC (Banco Central) sinalizou que cortará a taxa básica de juros, a Selic, para 12,25% ao ano em novembro, na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária). O colegiado decidiu reduzir o juro base em 0,5 ponto percentual nesta 4ª feira (20.set.2023), para 12,75%. Eis a íntegra do comunicado (PDF – 129 kB).
O próximo encontro será em 31 de outubro e 1º de novembro. A autoridade monetária indicou um corte de “igual magnitude”. A decisão foi unânime.
“Os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”, disse o comunicado. Eis a íntegra do documento (PDF – 129 kB).
A redução da Selic era esperada pelo mercado. Esse foi o 2º corte seguido, também o 2º com a mesma intensidade de 0,5 ponto percentual. O mercado financeiro aposta que a taxa básica termine o ano em 11,75% ao ano, o que significa uma redução de 1 ponto percentual. O colegiado terá mais duas reuniões em 2023.
A precificação da taxa básica é uma ferramenta de política monetária utilizada pelo BC para controlar o poder de compra da população. Responsável por medir a inflação oficial do país, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) acelerou para 4,61% no acumulado de 12 meses até agosto.
O COMUNICADO
O Copom disse que a decisão desta 4ª feira (20.set.2023) é compatível com a estratégia de levar a inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui 2024 e, em grau menor, 2025.
O colegiado disse que o ambiente externo está incerto, com a continuidade do processo de desinflação nos países, mas com os núcleos inflacionários –que exclui os efeitos temporários– ainda “elevados”.
“Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas. O Comitê notou a elevação das taxas de juros de longo prazo dos Estados Unidos e a perspectiva de menor crescimento na China, ambos exigindo maior atenção por parte de países emergentes”, declarou.
Sobre o Brasil, o Banco Central disse que há uma maior resiliência da atividade econômica do país do que anteriormente esperado. Apesar disso, o Copom ainda aposta em um cenário de desaceleração da economia nos próximos trimestres.
O BC avalia que as medidas de inflação subjacente apresentaram queda, mas ainda estão acima da meta.
“As projeções de inflação do Copom em seu cenário de referência situam-se em 5,0% em 2023, 3,5% em 2024 e 3,1% em 2025. As projeções para a inflação de preços administrados são de 10,5% em 2023, 4,5% em 2024 e 3,6% em 2025”, afirmou.
O Banco Central apontou que é importante a execução das metas fiscais já estabelecidas pelo governo para a ancoragem das expectativas futuras de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária. Há incertezas sobre a viabilidade dessas metas, porque exigirá um grande esforço do Ministério da Fazenda em elaborar medidas que aumentem a receita.
REAÇÕES
O economista Julio Cesar Barros, do Banco Daycoval (B3:DAYC4), declarou que o Banco Central abordou o tema das incertezas sobre as contas públicas de forma menos “hawkish” (postura mais agressiva para combater a inflação). Avalia que a autoridade monetária poderia incluir o assunto no balanço de risco, que é utilizado pelo BC para tomar a decisão de política monetária.
“O balanço de risco permaneceu simétrico, com os mesmos riscos já apontados no comunicado anterior (de agosto). O Banco Central traz de volta o tema fiscal, mas mais no sentido de um alerta em relação à importância de se seguir as metas fiscais”, declarou.
O economista declarou que há uma incerteza muito grande sobre a meta do governo em zerar o deficit nas contas públicas em 2024. “A depender do que acontecer com o fiscal, é possível ter algum entrave [na sequência de cortes de juros]”, declarou.
Barros disse o comunicado indicou um “plano de voo” de cortes sequenciais de 0,5 ponto percentual, assim como espera o mercado financeiro.
O analista avalia que o tamanho do ciclo de flexibilização monetária dependerá do comportamento, principalmente, da inflação de serviços. Se houver uma queda mais intensa dos preços dos serviços, o economista disse que o BC poderá adotar uma aceleração no ritmo dos cortes da Selic no 1º trimestre de 2024.
Marianna Costa, economista-chefe do TC, disse que o comunicado “ratifica” a percepção dos agentes de mercado de que o ciclo de queda de juros deve seguir pelos próximos meses, em sequências de cortes de 0,5 ponto percentual. “Deve perdurar até meados do próximo ano”, avalia.
“Entendemos que há espaço para chegar perto de 9,5% no 2º trimestre de 2024, e que o ajuste residual será o grande foco dos debates daqui em diante”, declarou.
Em nota, a Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro) disse que a decisão é “correta e condizente com o cenário atual”. Avalia que a inflação de serviços tem um comportamento benigno de queda. Declarou que a desaceleração do mercado de trabalho é um “elemento que torna mais evidente o ritmo mais lento da economia”.
A federação ponderou que o corte de 0,5 ponto percentual não é suficiente para restaura o dinamismo econômico.
POLÍTICA MONETÁRIA
A política monetária do Banco Central tem efeito defasado na economia. Por isso, as decisões tomadas também impactam na atividade econômica por um período prolongado, de aproximadamente 18 meses, ou 1 ano e meio.
O BC diz que analisa o impacto temporal ao longo do “horizonte relevante” da política monetária. Tem o trabalho de levar a inflação para o intervalo das metas, tanto para o ano corrente quanto para o ano seguinte.
Segundo as projeções do mercado financeiro no Boletim Focus, a inflação deverá terminar o ano em 4,86%, acima da meta, de 3,25%, e do teto da meta, de 4,75%. Os analistas também estimam taxas de 3,86% em 2024, de 3,50% em 2025 e de 3,5% em 2026. A meta de inflação para estes anos é de 3%, com intervalo de tolerância de até 4,5%.
POLITIZAÇÃO DO COPOM
O Banco Central foi o principal alvo de críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e aliados do governo em 2023. Um dos mais enfáticos, o ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, relacionou o presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, à esquizofrenia. Disse que as decisões do colegiado são políticas para prejudicar o governo.
Campos Neto comanda o BC desde o governo Jair Bolsonaro (PL), adversário político do presidente Lula. Com a autonomia da autoridade monetária sancionada em 2021, ele e os 8 diretores têm mandatos de 4 anos.
Campos Neto disse que ficará no cargo até o fim de seu mandato, em 31 de dezembro de 2024. Poderá ser reconduzido à presidência do BC por mais 4 anos, mas disse ser contrário.
O governo acusou o presidente do Banco Central de deixar a taxa básica, a Selic, alta para prejudicar o crescimento econômico do país.
O Banco Central diz que as decisões não são políticas e que é preciso respeitar a autoridade monetária. Campos Neto defende que a inflação descontrolada é um imposto perverso e uma queda precoce da Selic pode ser pior para o país.
METAS DE INFLAÇÃO
O BC descumpriu as metas de inflação em 2021 e em 2022. A autoridade monetária precisou divulgar duas cartas públicas, uma em cada ano, para dar explicações para a inflação ter ficado acima do limite. Relembre:
- 2021– a meta era de 3,75% (com intervalo de tolerância de 2,25% a 5,25%), mas a inflação foi de 10,06%. Leia a carta;
- 2022 – a meta era de 3,5% (com intervalo de tolerância de 2% a 5%), mas a inflação foi de 5,79%. Leia a carta.
Em junho, o Banco Central disse que havia 61% de probabilidade de a inflação ficar acima da meta também em 2023.
JUROS REAIS
Levantamento realizado pelo economista Jason Vieira mostrou que o Brasil foi ultrapassado pelo México e agora tem os 2º maiores juros reais do mundo. A taxa quando considerada a inflação será de 6,40% nos próximos 12 meses. O cálculo é “ex-ante”, quando há uma estimativa dos juros reais para os próximos 12 meses. Eis a íntegra do relatório (265 kB).