Por Marcela Ayres
BRASÍLIA (Reuters) - O déficit em transações correntes do Brasil foi de 3,904 bilhões de dólares em fevereiro, aumento de 17,1% sobre igual mês do ano passado, principalmente pela piora nas contas de serviços e de renda primária, divulgou o Banco Central nesta quarta-feira.
O resultado veio um pouco acima do déficit de 3,45 bilhões de dólares esperado por analistas em pesquisa da Reuters.
Já os investimentos diretos no país (IDP) alcançaram 5,996 bilhões de dólares no mês, em linha com expectativa de 6,0 bilhões de dólares.
No mês, a balança comercial teve um superávit de 2,518 bilhões de dólares, com uma ligeira redução frente ao saldo positivo de 2,672 bilhões de dólares registrado em igual mês do ano passado.
Embora a disseminação do coronavírus na China já tivesse começado desde o fim do ano passado, as preocupações sobre seu rápido contágio mundo afora e sobre seu impacto nas redes de saúde e na atividade econômica ganharam vulto neste mês.
Em fevereiro, ainda houve um aumento de 4% nas exportações brasileiras, segundo os dados do BC, a 16,386 bilhões de dólares. As importações, por sua vez, subiram 6% na mesma base, a 13,868 bilhões de dólares.
O maior responsável pela piora do rombo em transações correntes em fevereiro foi o déficit na conta de serviços, com aumento de 239 milhões de dólares frente a igual período do ano passado, a 2,594 bilhões de dólares.
Dentro dessa conta, estão as despesas líquidas com aluguel de equipamentos, que subiram 55,2% a 1,454 bilhão de dólares em fevereiro. Já os gastos líquidos de brasileiros no exterior, que costumam ser sensíveis à alta do dólar frente ao real, caíram 47% sobre um ano antes, a 403 milhões de dólares.
Olhando para a renda primária, o déficit subiu 224 milhões de dólares contra fevereiro de 2019, a 3,904 bilhões de dólares, segundo os dados do BC. Nesse caso, a linha foi influenciada principalmente pelo aumento de 35,3% nos gastos líquidos com juros, a 1,369 bilhão de dólares.
No primeiro bimestre do ano, o déficit em transações correntes somou 15,784 bilhões de dólares, crescimento de 27,5% ante igual etapa do ano passado. Em 12 meses, ele passou a responder por 2,91% do Produto Interno Bruto (PIB), maior patamar desde dezembro de 2015 (3,03% do PIB).
A elevação do déficit tem ocorrido apesar do pífio desempenho econômico, algo verificado já em 2019. As perspectivas para as transações correntes devem ficar ainda mais difíceis diante do impacto do coronavírus na atividade doméstica e no crescimento global.
Para 2020, o BC previu em sua última projeção novo aumento do déficit em transações correntes, para 57,7 bilhões de dólares, ante 49,452 bilhões de dólares em 2019.
A conta foi feita em dezembro e deve ser atualizada pela autoridade monetária na quinta-feira, na publicação do Relatório Trimestral de Inflação.
SAÍDA DE INVESTIMENTOS
De acordo com o BC, a saída líquida de investimentos em portfólio no Brasil chegou a 3,358 bilhões de dólares em fevereiro, com retirada líquida de 4,495 bilhões de dólares em ações e fundos de investimento e ingresso de 1,137 bilhão de dólares em títulos de dívida.
Nos dois primeiros meses do ano, a saída líquida de investimentos do mercado doméstico foi de 1,907 bilhão de dólares, com saques líquidos de 8,606 bilhões de dólares em ações e fundos de investimento e entrada de 6,699 bilhões de dólares em títulos de dívida.