Por José de Castro e Rodrigo Viga Gaier
SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) - A taxa de desemprego no Brasil caiu no trimestre encerrado em agosto ao menor patamar desde maio do ano passado, com aumento na população ocupada puxado por mais trabalhadores com carteira assinada, mas ainda assim a informalidade cresceu, enquanto o rendimento real sofreu a maior queda da série histórica, um lembrete dos enormes desafios a um mercado de trabalho no qual 13,7 milhões de pessoas não conseguem se inserir.
E olhando à frente o cenário parece mais nebuloso, uma vez que a forte deterioração recente das perspectivas para a economia forçou revisões de baixa para o crescimento da atividade em 2022, ditando prognósticos piores para o mercado de trabalho.
Pelos números do IBGE divulgados nesta quarta-feira, a taxa de desocupação no mercado de trabalho caiu para 13,2% no trimestre findo em agosto, abaixo dos 14,6% de maio (trimestre comparável) e a menor desde o nível de 12,9% do trimestre encerrado em maio de 2020.
A população desocupada recuou 7,7%, o equivalente a menos 1,1 milhão de pessoas ante o trimestre terminado em maio de 2021, mas ainda somou expressivos 13,7 milhões de pessoas em busca de um trabalho no país --e não mostrando evolução na comparação anual, na qual ficou estável.
"O contingente de desocupados de 13,7 milhões ofertando sua mão de obra é muito alto, e a ocupação depende da dinâmica da economia e de quem contrata trabalhadores", disse Adriana Beringuy, coordenadora de Trabalho e Rendimento do IBGE.
Já a população ocupada foi a 90,2 milhões, crescimento de 4,0% --ou mais 3,5 milhões de pessoas-- ante o trimestre móvel encerrado em maio.
O nível da ocupação --percentual de pessoas ocupadas na população em idade de trabalhar-- foi estimado em 50,9%, aumento de 2,0 pontos percentuais no trimestre e de 4,1 pontos percentuais no ano. Com isso, mais da metade da população em idade para trabalhar está ocupada no país. Em um ano, o contingente de ocupados avançou em 8,5 milhões de pessoas.
A ocupação teve impulso do crescimento de 1,1 milhão de trabalhadores com carteira assinada, alta de 4,2% sobre o trimestre anterior.
Mas os postos de trabalho informais também avançaram, com a manutenção da expansão do trabalho por conta própria (que bateu recorde ao somar 25,4 milhões de pessoas) sem CNPJ e do emprego sem carteira no setor privado --que registrou as maiores variações da série histórica em termos percentuais (23,3%) e absolutos (2,0 milhões de pessoas) na comparação anual.
Isso, inclusive, fez com que a taxa de informalidade subisse para 41,1% no trimestre encerrado em agosto, de 40% em maio, totalizando 37,0 milhões de pessoas. E o número de subocupados --que trabalham menos horas do que poderiam trabalhar-- bateu recorde.
O trabalho informal inclui trabalhadores sem carteira assinada (empregados do setor privado ou trabalhadores domésticos), sem CNPJ (empregadores ou empregados por conta própria) ou trabalhadores familiares auxiliares.
QUEDA NO RENDIMENTO
Beringuy, do IBGE, destacou os efeitos da retomada econômica sobre o nível de ocupação no mercado de trabalho, num contexto em que a vacinação permite maior circulação de pessoas.
"Ainda tem muita gente fora do mercado e subutilizada, mas estamos num momento de transição. A melhora quantitativa existe, e precisamos esperar para ter uma visão mais qualitativa e estrutural", afirmou.
Num sinal de condições ainda piores no mercado de trabalho, o rendimento real sofreu a maior queda percentual da série histórica tanto no comparativo na margem quanto anual.
A queda sobre o trimestre anterior foi de 4,3%, enquanto sobre um ano antes o tombo foi de 10,2%, para uma renda média de 2.489 reais.
A massa de rendimento real habitual ficou estável em ambas as comparações, a 219,2 bilhões de reais.
"A perda do poder de compra de população acaba interferindo no consumo das famílias, e ele responde por parte relevante da economia", afirmou a coordenadora de Trabalho e Rendimento do IBGE.
"Isso tudo vai influenciar na recuperação quantitativa e qualitativa. Isso vai dar o ritmo ao nível de reação do mercado de trabalho", finalizou.
Em meio à piora geral de várias métricas para a economia brasileira, analistas passaram a ver cenário mais frágil para o mercado de trabalho no ano que vem.
Com a projeção de que o Produto Interno Bruto (PIB) retrairá 0,5% em 2022, o Itaú Unibanco (SA:ITUB4) elevou a estimativa para a taxa de desemprego para 13,3% ao fim do período (média anual de 12,9%), ante 12,6% no cenário anterior (média de 12,4%). Para 2021, a expectativa ainda é que a desocupação caia a 12,2%, com o PIB em alta de 5,0%.
O Citi ainda vê taxa média de desocupação de 12,5% em 2022, de taxa prevista de 13,6% para 2021.
"No entanto, dependendo da extensão da recente flexibilização fiscal e da provável reação mais agressiva da política monetária, os riscos de baixa estão claramente aumentando significativamente na perspectiva de atividade para 2022", disseram profissionais do banco em nota.