Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier
SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) - O desemprego voltou a aumentar no Brasil e chegou ao maior nível em um ano no trimestre encerrado em abril, com perdas recordes na ocupação, e o número de desempregados atingindo 12,8 milhões, diante das dispensas provocadas pelas medidas de restrição ao coronavírus.
A taxa de desemprego apurada pela Pnad Contínua chegou a 12,6% entre fevereiro e abril, de 11,2% no trimestre encerrado em janeiro, informou nesta quinta-feira o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
No mesmo período de 2109, a taxa era de 12,5%. O resultado ficou abaixo da expectativa em pesquisa da Reuters de 13,3%, mas ainda assim é o mais elevado desde o trimestre encerrado em março do ano passado, quando a taxa ficou em 12,7%.
Assim, já ficam claros os impactos sobre o mercado de trabalho do fechamento de lojas e comércio e das determinações de isolamento social devido à pandemia, com perdas de emprego tanto entre os informais quanto entre os trabalhadores com carteira assinada.
"O isolamento foi responsável para os movimentos acentuados do mercado de trabalho", disse a analista da pesquisa, Adriana Beringuy.
Com a economia fadada a sofrer forte contração neste ano, o número de desempregados entre fevereiro e abril no país chegou a 12,811 milhões, de 11,913 milhões entre novembro e janeiro e 13,177 milhões no mesmo período do ano anterior.
Por sua vez, o total de pessoas ocupadas caiu a 89,241 milhões no trimestre até abril, queda recorde de 5,2% sobre o período anterior (de novembro de 2019 a janeiro de 2020) e de 3,4% ante o mesmo intervalo de 2019.
"Dos 4,9 milhões de pessoas a menos na ocupação, 3,7 milhões foram de trabalhadores informais. O emprego com carteira assinada no setor privado teve uma queda recorde também. A gente chega em abril com o menor contingente de pessoas com carteira assinada", explicou Beringuy.
No trimestre até abril, o contingente de trabalhadores com carteira assinada no setor privado caiu a 32,207 milhões, de 33,711 milhões entre novembro e janeiro.
Sem carteira no setor privado, eram 10,126 milhões de empregados no período, contra 11,673 milhões no trimestre imediatamente anterior.
Segundo o IBGE, a queda na população ocupada foi generalizada, chegando a sete dos dez grupos de atividades avaliados na pesquisa, sendo as exceções agro, comunicação e administração pública.
O destaque foi o comércio, com 1,2 milhão de pessoas deixando a população ocupada, enquanto 885 mil saíram da construção e 727 mil dos serviços domésticos --maior perda desde o início da série, em 2012.
"Várias famílias podem ter dispensados os seus trabalhadores domésticos em função dessa questão do isolamento. É uma queda bastante acentuada", avaliou Beringuy.
Diante dessa situação, o número de desalentados voltou a subir, atingindo 5,026 milhões de pessoas, alta de 7% sobre o trimestre até janeiro.
Com a queda recorde da população ocupada, a massa de rendimento real também teve a maior retração da série histórica, de 3,3%, ou retração de 7,3 bilhões de reais.
Por outro lado, o rendimento médio do trabalhador chegou a 2.425 reais nos três meses até abril, de 2.378 reais até janeiro, atingindo o maior nível da série histórica.
De acordo com Beringuy, esse aumento poderia estar associado ao fato de que os informais, que ganham menos, foram o grupo que mais saiu da ocupação, restando os trabalhadores que relativamente têm salários mais altos.
"Agora temos uma situação de menos trabalhadores informais e o rendimento médio acaba sendo calculado em cima de quem permaneceu no mercado de trabalho", disse ela.
Diante da situação provocada pela pandemia, o Ministério da Economia passou a projetar contração do PIB em 2020 de 4,7%, no que seria o pior resultado da série história que começou em 1900.
A pesquisa Focus mais recente do BC já mostra que a expectativa do mercado é retração de 5,89% para a economia este ano, indo a um crescimento de 3,50% em 2021.