A diretora do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Michelle Bowman, estima que os juros neutros norte-americanos estão em nível mais elevado do que no período pré-pandemia, o que sugere riscos de nova aceleração nos preços se o BC americano cortar juros rápido demais. Em discurso divulgado nesta terça-feira, 24, Bowman argumenta que este é o motivo pelo qual não vê o pico do último ciclo de aperto monetário como "muito restritivo", ao contrário de outros dirigentes do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, em inglês).
"Ainda existe em segundo plano uma quantia significativa de demanda reprimida, pronta para acelerar conforme os juros se movem para baixo", apontou a dirigente. "Uma postura mais comedida ao flexibilizar a política monetária evitaria impulsionar a demanda desnecessariamente ou reacelerar pressões inflacionárias."
Bowman reforçou que ainda vê a inflação como uma preocupação, diante de riscos "proeminentes" de alta nos preços devido a greves de trabalhadores, aumento nas tensões geopolíticas, efeitos inflacionários nos mercados de commodities e expansão de gastos fiscais. "Não é meu cenário base, mas não posso descartar risco de que o progresso na inflação pode estagnar", alertou.
Por outro lado, a dirigente ponderou que as poupanças estão esgotando, apesar da resiliência dos consumidores, e que a desaceleração do mercado de trabalho não reflete um enfraquecimento preocupante - por exemplo, o aumento na taxa de desemprego reflete contratação lenta, não demissões.
"Minhas decisões levarão em conta os riscos para o mandato duplo de estabilidade de preços e emprego máximo", concluiu Bowman, destacando que até a próxima decisão, em novembro, os dirigentes terão mais dados sobre inflação, emprego e atividade econômica. "Se dados apontarem deterioração do mercado de trabalho, apoiarei ajustes necessários na política monetária."