BRASÍLIA (Reuters) - A dívida pública federal do Brasil caiu 0,44 por cento em outubro ante setembro, a 3,763 trilhões de reais, num mês marcado por forte queda do dólar após o resultado das eleições presidenciais, que levou à diminuição da dívida externa, informou o Tesouro Nacional nesta segunda-feira.
Com o movimento, a dívida total se distanciou da meta estabelecida para 2018 pelo Plano Anual de Financiamento (PAF), de 3,78 trilhões a 3,98 trilhões de reais, após ter encostado no limite inferior da banda no mês anterior.
No período, a dívida pública mobiliária interna teve redução de 0,17 por cento --ou 6 bilhões de reais-- a 3,622 trilhões de reais, em função do resgate líquido de 32,81 bilhões e apropriação positiva de juros de 26,54 bilhões de reais.
Já a dívida externa teve uma contração de 6,73 por cento em outubro em relação a setembro, equivalente a 11 bilhões de reais, num mês em que o dólar apresentou queda de 7,79 por cento. Este foi o maior recuo percentual da moeda norte-americana ante o real desde junho de 2016, com o resultado da corrida presidencial brasileira levando a moeda para o patamar de 3,70 reais.
Os investidores entraram num período de lua de mel com o governo eleito de Jair Bolsonaro (PSL), fiando-se na possibilidade de a superpasta chefiada pelo liberal Paulo Guedes englobando Fazenda, Planejamento e Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) conseguir ir adiante com reformas fiscais e de modernização da economia.
"O Brasil se destacou no mês de outubro em relação a seus pares... o que se deu basicamente em função do mercado doméstico, com diminuição das incertezas eleitorais que provocou movimento muito forte na curva de juros", avaliou o coordenador-geral de Operações da Dívida Pública, Luis Felipe Vital.
Em coletiva de imprensa, ele chamou a atenção para a queda de cerca de 150 pontos percentuais em taxas mais longas, destacando que o recuo nos juros locais observado em outubro resultou em menores taxas de emissão da dívida interna.
"NTN-F com vencimento em 2029 está com taxa próxima a 9,99 por cento, o que demonstra que títulos prefixados ofertados pelo Tesouro estão com taxa abaixo de 10 por cento. É algo que não víamos desde abril/maio", disse.
Vital destacou que isso vem ocorrendo apesar de o cenário externo para emergentes seguir adverso. Entre os fatores que mexeram globalmente com os mercados em outubro ele citou, por exemplo, questões no México, dúvidas sobre o Orçamento na Itália e sobre o Brexit no Reino Unido.
COMPOSIÇÃO
Quanto à composição, os títulos que variam com a Selic, representados pelas LFTs, seguiram respondendo pela maior fatia da dívida geral em outubro, a 35,27 por cento, acima do patamar de 34,08 por cento em setembro, mas dentro da faixa de 33 a 37 por cento estabelecida como meta para o ano.
Enquanto isso, os títulos prefixados foram a 32,51 por cento do total, sobre 33,88 por cento no mês anterior e uma meta de 32 a 36 por cento para o ano.
Os papéis indexados à inflação, por sua vez, viram sua fatia aumentar a 28,31 por cento, ante 27,84 por cento em setembro, sendo que a referência para 2018 é de 27 a 31 por cento.
A participação dos investidores estrangeiros na dívida mobiliária interna subiu a 11,97 por cento em outubro, ante 11,67 por cento um mês antes, apontou ainda o Tesouro.
NOVEMBRO
Sobre o mês de novembro, Vital afirmou que a curva de juros tem mostrado melhora marginal. Ele reforçou que o Tesouro Nacional segue com a mesma estratégia de alguns meses atrás, de aumentar oferta de títulos prefixados e reduzir a de LFTs, com a diferença de que, agora, vê quadro mais positivo do ponto de vista interno.
"O Tesouro não vai ser fator de pressão nos mercados, vai sempre respeitar as condições de mercado", disse. "A estratégia é a mesma, a diferença é que estamos vendo cenário mais positivo no mercado doméstico", completou.
Olhando para o cenário externo, contudo, Vital ressaltou que o Tesouro não está enxergando melhora compatível para realização de emissão externa.