Por Parisa Hafezi
DUBAI (Reuters) - Os iranianos votam nesta sexta-feira em uma eleição que deve entregar a Presidência do país a um juiz linha-dura sujeito a sanções dos Estados Unidos, mas é provável que muitos ignorem a votação em meio às agruras econômicas e os pedidos de boicote de liberais em casa e no exterior.
Em meio à incerteza sobre os esforços do Irã para ressuscitar o acordo nuclear de 2015, o comparecimento está sendo visto por analistas como um referendo sobre a maneira como a liderança trata de uma série de crises.
Depois de votar na capital Teerã, o líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, pediu aos compatriotas que votassem, dizendo que "cada voto conta... venham e votem e escolham seu presidente".
O linha-dura Ebrahim Raisi, de 60 anos, aliado próximo de Khamenei, é o favorito para suceder Hassan Rouhani, um pragmático que a Constituição impede de servir um terceiro mandato de quatro anos.
Crítico duro do Ocidente, Raisi está sujeito a sanções dos EUA devido ao seu suposto envolvimento nas execuções de prisioneiros políticos décadas atrás.
"Se eleito, Raisi será o primeiro presidente iraniano na história recente a ter sido não somente punido antes de tomar posse, mas possivelmente punido no exercício do cargo", disse o analista Jason Brodsky.
Embora centenas de iranianos, incluindo familiares de dissidentes mortos desde a República Islâmica de 1979, tenham clamado por um boicote eleitoral, o núcleo de apoiadores religiosamente devotos do establishment deve votar em Raisi.
"Votarei pelos mártires", disse um jovem à televisão estatal, referindo-se aos iranianos mortos pelos inimigos do país.
A TV estatal mostrou filas longas diante de seções eleitorais em várias cidades. Mais de 59 milhões de iranianos estão habilitados a votar. As urnas fecham às 16h30 (horário de Brasília), mas podem ficar abertas durante mais duas horas, e os resultados são esperados perto do meio-dia de sábado.
"Meu voto é um grande NÃO à República Islâmica", disse Farzaneh, moradora de 58 anos da cidade central de Yazd. Ela disse que, ao contrário do que a TV estatal noticiou, "as seções eleitorais estão quase vazias aqui".
Uma vitória de Raisi confirmaria a derrocada política de políticos pragmáticos como Rouhani, enfraquecido pela decisão norte-americana de abandonar o acordo nuclear e reimpor sanções durante o governo Trump, uma medida que travou a reaproximação do Oeste, mas não deteria a tentativa iraniana de retomar o pacto e se libertar de sanções duras aos setores de petróleo e finanças, disseram autoridades do Irã.