Por Howard Schneider
WASHINGTON (Reuters) - O Federal Reserve, nos últimos 20 meses, utilizou seu arsenal de política monetária com o objetivo único de restaurar o emprego nos Estados Unidos, especialmente para os mais vulneráveis, cujas perspectivas foram mais prejudicadas durante a pandemia.
Os juros permanecem ancorados perto de zero e as compras de títulos do banco central ainda estão em andamento, mesmo com a inflação disparando e o desemprego caindo rapidamente -- uma combinação que começou a abalar até os defensores dos objetivos de emprego do Fed, receosos de que o banco central atualmente esteja fazendo mais mal do que bem para a causa do pleno emprego.
Pedindo por um pivô rápido do Fed em direção a uma política monetária mais rígida, o proeminente economista democrata e ex-presidente do Conselho de Consultores Econômicos, Jason Furman, disse na quarta-feira que o Fed está fora de compasso com a situação da economia. Além disso, se tiver que recuperar o tempo perdido com uma mudança de política monetária mais dramática e aumentos mais rápidos dos juros no futuro, isso prejudicará aqueles que aparentemente pretende ajudar.
"Uma economia aquecida ajuda muito os trabalhadores vulneráveis", escreveu Furman, agora professor da Universidade de Harvard, em uma apresentação preparada para o Intituto Peterson para Economia Internacional. "Mas uma recessão prejudica mais os trabalhadores vulneráveis ... Diminuir um pouco a inflação agora poderia ajudar a evitar a necessidade de medidas ainda mais drásticas e dolorosas no futuro -- e reduzir as chances de uma recessão futura, com milhões de empregos que poderiam ser perdidos."
"DADOS NUBLADOS"
Há poucas divergências sobre a visão de que a economia norte-americana ainda precisa de ajuda à medida que supera uma crise de saúde que levou a taxa de desemprego a quase 15%, ainda que brevemente.
Mesmo as autoridades do Fed mais preocupadas com a inflação atualmente veem a necessidade de aumentar os juros apenas duas vezes no próximo ano, ou cerca de 0,5 ponto percentual. É um ritmo modesto de "normalização" que significaria que a política monetária do Fed ainda estaria apoiando o crescimento econômico.
É provável que isso mude um pouco quando as novas previsões das autoridades forem divulgadas, no mês que vem, e elas incorporarem os recentes e inesperadamente fortes aumentos de preços e salários.
As diferenças de opinião giram mais em torno de quanto tempo o Fed deve esperar antes de começar a sinalizar suas medidas e, em seguida, avançar com seus primeiros aumentos de juros, e quão rigoroso o banco deve ser em cumprir sua promessa de não aumentar os custos dos empréstimos até que a economia volte ao "pleno emprego".
Isso continua sem solução, e o conceito de pleno emprego indefinido, com alguns formuladores de política monetária argumentando que o maior erro seria aumentar os juros prematuramente e potencialmente desacelerar o crescimento do emprego antes que fique claro que a inflação não mudará de curso por conta própria.
"Temos 4 milhões de empregos a menos do que tínhamos e, se você levar em conta onde estaríamos sem a Covid, é mais como 6 milhões, e não é isso que eu consideraria pleno emprego", disse a presidente do Federal Reserve de São Francisco, Mary Daly nesta semana.
"Os dados estão nublados no momento e, se reagirmos aos dados nublados, podemos acabar cometendo um erro que seria muito difícil de resolver."